Não foram tranquilas as comemorações, na Catalunha, do primeiro aniversário de um alegado referendo sobre a permanência, ou não, daquela região no Estado espanhol. Houve cortes de estradas, bloqueios nos caminhos de ferro e confrontos com a polícia. Em editorial, escreve o jornal “El Mundo” que a radicalização do independentismo catalão necessita de agitação social para se manter vivo.
O referendo de há um ano era ilegal e proibido pela constituição; foi improvisado, não obedecendo às exigências mínimas de um referendo. Mas o então primeiro-ministro de Espanha, Mariano Rajoy, cometeu um erro fatal, que aqui denunciei na altura. Enviou para a Catalunha polícias e soldados de fora daquela região autónoma, com o objetivo de impedir pela força que os catalães fossem votar. Não apenas muitos votaram – alguns várias vezes… - como assim Rajoy deu força aos independentistas, que puderam bramar contra uma “ocupação militar pelo estrangeiro” (ou seja, por Espanha). E uma parte dos moderados tornou-se radical.
O governo de Rajoy recusou-se a negociar com os independentistas e empurrou o problema para a esfera judicial. Daí que haja ainda vários independentistas presos e outros que se exilaram. Mas Rajoy perdeu uma moção de censura e o seu governo foi substituído por um executivo do PSOE, que dispõe nas Cortes (Parlamento) de um apoio muito minoritário. O novo primeiro-ministro, Pedro Sanchez, dialogou com independentistas, mas manteve a linha do seu partido, que defende a unidade de Espanha. E um governo central minoritário não tem condições para avançar com propostas. Daí que tenha, antes, de haver novas eleições gerais em Espanha.
Calcula-se que apenas cerca de um terço dos habitantes da Catalunha quer separar-se do Espanha. Mas os políticos catalães que desencadearam o processo há um ano são extremistas radicais: apenas aceitam uma Catalunha independente e republicana. Não lhes interessa mais autonomia no quadro do Estado espanhol.
Acontece que talvez um outro terço dos catalães se opõe frontalmente à independência da Catalunha, até porque muitos deles são provenientes de outras regiões menos desenvolvidas de Eapanha. Por isso multiplicam-se os afrontamentos, por vezes violentos, entre os dois extremos. A convivência civilizada entre os habitantes da Catalunha recuou, afetando a qualidade de vida na região.
Também há custos económicos, claro. O crescimento da economia catalã abrandou, o turismo baixou cerca de 7%, o investimento estrangeiro caiu brutalmente. Mas o problema de fundo é político e não se vê saída.
Os independentistas radicais contavam com o apoio da UE, o que era uma infantilidade: uma união de Estados não pode dividir Estados-membros.
E começam a surgir contradições no campo independentista – nem todos apoiam a deriva radical e violenta. Mas daí a um retorno ao diálogo político ainda vai uma longa distância.
Este conteúdo é feito no âmbito da parceria Renascença/Euranet Plus – Rede Europeia de Rádios. Veja todos os conteúdos Renascença/Euranet Plus