“Você deve ter sido um bom centro-campista. É bom chutar para todo o lado”. “Acusações de “incompetência” na reunião da Câmara de Setúbal
04-05-2022 - 17:30
 • Tomás Anjinho Chagas

Vereadores do PS e do PSD criticam a “lei da rolha” do autarca, que quer manter o silêncio até ao apuramento dos factos. Negrão diz que André Martins “não tem condições” para ficar, caso tudo de revele verdade.

Setúbal apoia os Ucranianos” e “Os setubalenses não se revêm na falta de bom senso”, são duas frases inscritas num viaduto à entrada da cidade. Mais perto da Câmara Municipal de Setúbal, a menos de 100 metros, uma varanda ostenta duas bandeiras ucranianas. Na faixa que está pendurada durante toda a extensão pode ler-se “Help Ukraine”.

Nos Paços do Concelho, na Praça de Bocage, os vereadores reuniram-se naquele que seria mais um encontro ordinário. Mas não foi. O caso dos refugiados ucranianos que foram recebidos por funcionários russos, marcou todos os momentos deste encontro.

André Martins, presidente da Câmara Municipal de Setúbal desde setembro de 2021, previu que o tema seria dominante e tentou secá-lo. Sem sucesso.

“A agressão militar da Rússia na Ucrânia, merece a minha condenação”, disse o autarca, que depois de fazer uma cronologia dos contornes do caso, afirmou que “até ao apuramento dos factos e à conclusão destas diligências, deveremos evitar voltar a comentar publicamente este assunto”.

Pressão da oposição

Mas sem demora, a primeira intervenção da oposição voltou imediatamente ao caso. Fernando Negrão, vereador do PSD atirou: “a discussão vai ser feita publicamente noutros sítios, por isso, não pode deixar de ser feita na Câmara de Setúbal”, numa alusão à chamada do autarca à Assembleia da República.

De seguida foi o PS a falar, mas o tom não mudou. Fernando José, vereador socialista, abriu a declaração a acusar o autarca de Setúbal de “arrogância política” ao não assumir os erros de “incompetência” neste caso. Fez depois vários pedidos de esclarecimento e depois de ter dito que o funcionário da câmara e o presidente eram “amigos”, disse que André Martins está a tentar “atirar areia para os olhos dos porrtugueses”.

Depois das dezenas de perguntas do PS e do PSD, André Martins voltou a não responder a nenhuma, remetendo sempre para o momento em que sejam divulgados os resultados das diligências.

"É bom a distribuir jogo. A dar a bola para todo o lado"

Os momentos de tensão foram constantes, com destaque para a insistência do vereador do PS, Fernando José, onde a discussão subiu de tom. “Já fez essas perguntas”, disse o presidente da Câmara. “Não respondeu!”, respondeu o socialista. O autarca da CDU retorquiu: “Mas eu sou obrigado a responder?”. “É! Tem de responder aqui, perante os vereadores!”, atirou Fernando José.

Mais à frente, depois de assumir que ao município estava “enlameado” por causa da polémica, o presidente da câmara garantiu que iria “fazer tudo para proteger o bom nome do município” de Setúbal. “Sim, sim...”, respondeu baixinho um dos funcionários da câmara que estava a assistir à reunião, com um tom irónico.

As críticas ao executivo da câmara de Setúbal extenderam-se durante várias horas de debate. O PS pediu várias vezes a assunção da culpa por causa da “trapalhada” de todo este caso. “Acredito que foi um bom centro-campista. É um bom distribuir jogo. A dar a bola para todo o lado”, atirou Fernando José.

“Não tem condições” se responsabilidades forem do autarca

Jogou-se pergunta fora, e as respostas não apareceram. Já fora da sala das sessões, nos Paços do Concelho de Setúbal, Fernando Negrão voltou a dizer não compreender a falta de esclarecimentos.

O vereador do PSD afirma que o melhor, neste momento, é esperar pelo resultado das investigações. No entanto, questionado sobre se o autarca tem legitimidade para permanecer no cargo, caso seja considerado o “culpado” por esta situação, Fernando Negrão responde claramente: “Se tudo isto se confirmar, não tem condições para continuar no cargo”.

Aos jornalistas, o próprio presidente da Câmara Municipal de Setúbal, preferiu não responder. À saída da sala das sessões, já depois das 20h, André Martins desviou-se dos jornalistas e das perguntas: “Desculpem lá. Mas eu já disse o que tinha a dizer”, disse o autarca enquanto seguia o seu caminho.