Por que razão vai Marcelo à frente?
18-12-2015 - 16:12

Dos principais candidatos a Belém, haverá algum que dependa menos de terceiros do que Marcelo Rebelo de Sousa?

Os últimos tempos da governação de Sócrates dividiram o país. A crise que se seguiu e os anos da troika trouxeram novas clivagens. E neste final de 2015 a sociedade portuguesa voltou a partir-se, com todos os acontecimentos que conduziram ao poder uma inesperada aliança governamental.

É num quadro politicamente dividido e socialmente débil que Portugal vai eleger o novo Presidente da República. Nos próximos cinco anos, quem quiser potenciar o futuro de Portugal a partir de Belém terá a responsabilidade de recuperar ânimos e de relançar pontes na sociedade portuguesa.

Entre os candidatos assumidos, Marcelo Rebelo de Sousa é apontado como grande favorito. As sondagens indicam mesmo que pode vencer, logo na primeira volta. Mas por que razão vai Marcelo à frente, com tão larga vantagem?

Os adversários dizem que a popularidade de Marcelo é “culpa” da televisão. E que a popularidade televisiva do comentador explica a saúde eleitoral do candidato.

É evidente que Marcelo Rebelo de Sousa é o mais resiliente dos comentadores políticos, com forte presença multimédia: televisão, mas também rádio e jornais. Mas muitos outros nomes, mediaticamente fortes, até no comentário político, não teriam a menor hipótese de vencer um combate eleitoral desta dimensão.

Então, porquê Marcelo? Entre outras razões, porque ser conhecido não basta. Mais do que conhecido, Marcelo Rebelo de Sousa é reconhecido e identificado pelo modo como olha para o país, para o mundo e para a vida. Convicções e juízos são apresentados com olhar crítico, mas esperançoso; e até com indesmentível sentido de humor.

De resto, as suas múltiplas opiniões não o impedem de dialogar com as mais diferentes áreas da sociedade. Há quem disfarce ou anule convicções para dialogar; Marcelo parte daquilo em que acredita para estabelecer diálogo e compromissos.

No fundo, o lema que António Guterres assumiu há uns anos atrás – razão e coração – constitui o melhor retrato do registo de Marcelo. As suas intervenções críticas manifestam sempre um misto de razão e coração. O lado racional nunca matou a sensibilidade nem o humor. As explicações de Marcelo sobre a actualidade levaram o comum dos mortais a aproximarem-se, simultaneamente, do significado dos acontecimentos, mas também da figura do “professor”. Não é tenso nem zangado, parece bem com o mundo e aprecia a vida; a origem social não é travão, mas facilita o contacto próximo com a generalidade das pessoas, em todas as circunstâncias. Não é apenas uma cara e um nome. É um bilhete de identidade cívica, com uma assinatura familiar para grande parte do país.

O modo não sisudo como sabe descodificar as mensagens mais sérias deu-lhe um enorme capital de confiança, potenciado por uma poderosa e diferenciadora imagem de marca – a independência.

Aos olhos de todos, parece impossível controlar Marcelo Rebelo de Sousa. Políticos que muito gostariam, mas não conseguem controlar Marcelo não confiam nele, receiam-no e sobretudo, temem-no. Queixam-se das irreverências, apontam-lhe defeitos, não lhe perdoam críticas ou acusam-no do que consideram ter sido verdadeiras traições.

Desconfio que se em Portugal o Presidente da República fosse eleito por via indirecta, pela Assembleia da República (como sucede noutros países europeus), os estados-maiores partidários tudo fariam para cozinhar no parlamento um candidato conveniente, à altura do “sistema”. Se o povo não elegesse directamente o Presidente da República, a escolha acabaria por recair em alguém dócil, previsível e controlável, coisa que faria as delícias, ao menos de uma parte da classe política.

Já para os eleitores, alguém que não se deixa aprisionar nem pelos círculos do seu próprio partido constitui a melhor garantia para o exercício da função presidencial. É também por isso que os eleitores confiam em Marcelo: sentem-no como um dos “seus”, que os “outros” não controlam.

Dos principais candidatos a Belém, haverá algum que dependa menos de terceiros do que Marcelo Rebelo de Sousa?

A independência ostensiva de Marcelo explica abundantemente a sua vantagem. E, por outro lado, no meio de tanta pressão económica e de tanta depressão social, quem pode surpreender-se pelo facto de os eleitores preferirem um candidato presidencial assumidamente livre que tem uma visão do país e sabe comunicá-la com esperança e empatia?