Balão-espião abatido é suficiente para rebentar com a relação entre EUA e China?
06-02-2023 - 07:41
 • André Rodrigues

Engenho que sobrevoava os céus norte-americanos foi destruído no passado sábado pela força aérea dos EUA. Washington fala numa "violação inaceitável da soberania", enquanto Pequim confessa uma "forte insatisfação" e diz ter o direito a "retaliar".

O Pentágono anunciou, no passado sábado, o abate de um alegado balão-espião chinês, enquanto sobrevoava o estado da Carolina do Norte. O engenho já sobrevoava os EUA há vários dias.

O caso volta a aumentar a tensão entre Washington e Pequim e já resultou, inclusivamente, no cancelamento da visita do secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, à China. Uma visita que tinha como objetivo, precisamente, o desanuviamento das relações entre os dois países.

O que está em causa? Que balão é este?

Depende da perspetiva. Do lado chinês, é um engenho para recolha de dados meteorológicos que foi acidentalmente desviado da sua rota por causa do vento.

Para os Estados Unidos, estamos perante uma "violação inaceitável da soberania". De acordo com Washington, este balão sobrevoou locais sensíveis com o objetivo de recolher informações. Um desses locais terá sido um campo de armazenamento de mísseis nucleares no estado do Montana.

Num primeiro momento, os EUA hesitaram no abate do aparelho, alegando que isso poderia representar um risco de queda de destroços sobre as populações. A chamada "janela de oportunidade" surgiu quando o balão sobrevoava a costa atlântica na Carolina do Sul.

Espião chinês ou equipamento meteorológico, este engenho acabou por ser abatido por um caça da força aérea norte-americana.

Como é que a China reagiu?

Com "forte insatisfação" e reservando-se o direito de "retaliar" contra o que classifica ser um abuso da força por parte dos Estados Unidos. O governo de Pequim lembra que pediu expressamente a Washington que tratassem esta situação "de forma adequada, calma, profissional e comedida".

Agora, perante estes desenvolvimentos, as autoridades chinesas garantem que o país vai salvaguardar "os direitos e interesses legítimos das partes interessadas e reserva-se o direito de tomar outras ações consideradas necessárias".

E que "ações necessárias" poderão ser essas?

Não se sabe ao certo, mas a maior parte dos analistas admite que tudo isto não passe de uma guerra de palavras.

A consequência imediata foi o cancelamento da viagem do chefe da diplomacia norte-americana a Pequim, no que seria um encontro de enorme importância para o governo chinês. De acordo com o correspondente da BBC na China, estava até previsto um encontro entre Anthony Blinken e o próprio Presidente Xi Jinping.

Há mais equipamentos deste género a ser utilizados?

Sim. Há um outro balão igual a sobrevoar a América Latina. De resto, o governo da Colômbia diz ter detetado este fim de semana um engenho com características semelhantes às de um balão. Desconhece-se a sua origem.

Certo é que, de momento, as autoridades colombianas dizem que este objeto não representa qualquer ameaça à segurança ou à defesa nacional.