“O diabo também está no Vaticano, mas tenho medo é dos diabos bem-educados”
01-09-2021 - 09:03
 • Filipe d'Avillez

Francisco diz que tudo o que tem feito no seu pontificado tem tido por base as reuniões dos cardeais antes do conclave em que foi eleito. Sobre a ecologia diz ser um convertido.

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O Papa admite que o diabo também anda à solta no Vaticano, mas diz, em entrevista transmitida esta quarta-feira, que o que lhe mete mais medo são os diabos que nos tocam à campainha e pedem licença para entrar.

Em conversa com o jornalista Carlos Herrera, da Cadena COPE, a emissora católica espanhola, Francisco confirmou que também na Santa Sé o demónio, cuja existência o Papa confirmou várias vezes durante o seu pontificado, faz das suas.

O diabo está em todo o lado, mas eu tenho mais medo é dos diabos educados. Os que te tocam à campainha, pedem licença, que entram em tua casa, fazem-se amigos”, diz Francisco.

“Jesus também falou desses”, explica o Papa, “Quando disse: ‘Quando um espírito imundo sai de um homem’, ou seja, quando se converte e muda de vida, ‘passa por lugares áridos procurando descanso, e, não o encontrando, diz: Voltarei para a casa de onde saí. Quando chega, encontra a casa varrida e em ordem. Então vai e traz outros sete espíritos piores do que ele, e entrando passam a viver ali. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro’. Entra com outra atitude, são os diabos educados. A ingenuidade da pessoa deixa entrar e acaba pior do que começou. Tenho pavor dos diabos educados.”

Foi precisamente com a missão de acabar com alguma da desordem que existia no Vaticano que o Papa foi eleito e é isso que ele entende ser sua missão. Contudo, a este respeito Francisco diz que não inventou nada, está apenas a aplicar o “programa” que foi definido pelos cardeais no conclave em que foi eleito.

“Fui surpreendido com a minha eleição, mas não inventei nada. Procurei pôr em marcha o que nós cardeais dissemos nas reuniões antes do conclave, que esperávamos para o próximo Papa. Fazer isto, isto e isto. Foi o que tentei fazer. Não inventei nada, estou a obedecer ao que se combinou nesse momento.”

“O meu projeto de trabalho, a encíclica ‘Evangelii Gaudio’, resume o que os cardeais disseram nessa altura. Pedi as atas das reuniões, em que também tinha estado presente, e baseei-me nisso”, sublinha Francisco.

Um convertido à ecologia

Nesta entrevista, Francisco fala também da importância do tema da ecologia, que tem sido uma das bandeiras do seu pontificado, e admite que é um convertido a esta questão.

Tudo começou, diz, com a sua participação no encontro da Aparecida, no Brasil, quando ainda era arcebispo de Buenos Aires.

“Lá eu vi os brasileiros a falar da importância de conservar a natureza, da Amazónia, etc., e insistiam e insistiam. E eu perguntei, que tem a ver isto com a evangelização? Quando voltei a Buenos Aires estava chocado, mas lentamente fui entendendo algo. Sou um convertido a isto. Agora entendo mais.”

Percebi que tinha de fazer algo. Então pensei em escrever alguma coisa, de magistério. Organizei umas catequeses. Convoquei cientistas que me puseram os problemas reais, não os hipotéticos, e assim foi ganhando forma a Laudato Si’”

Já mais tarde, depois de eleito Papa, Francisco encontrou-se com Ségolène Royal, então ministra do Ambiente de França. “Ela perguntou-me se estava a escrever algo e, quando confirmei, pediu-me para publicar antes da cimeira de Paris.”

A Cimeira de Paris foi, para mim, o ápice da consciência mundial. Os encontros posteriores foram retrocedendo, mas pode ser que em Glasgow a coisa volte.”

O Papa confirmou ainda que o plano dele é de estar presente nesse encontro. “Tudo depende de como me vou sentir, mas em princípio o plano é para ir”, afirma.