​Será a recessão um drama?
30-08-2019 - 06:39

A crise de 2008 não foi totalmente ultrapassada e o ambiente político internacional pode degradar-se ainda mais...

As notícias e as previsões que apontam para a eventualidade bastante provável de se verificar uma recessão na zona euro, não teriam, noutro contexto internacional, uma carga tão negativa como a que as actuais estão a ter. É até razoável admitir que a recessão venha a ser uma profecia auto-realizada, dado o mediatismo das alterações negativas das expectativas que estão a acontecer um pouco por todo o lado.

Mas o que é que o actual contexto tem de especial que transforma num drama uma possibilidade de recessão – que deveria ser encarada com toda a naturalidade, pois as economias modernas funcionam com expansões e recessões?

Em primeiro lugar, a crise de 2008 não foi totalmente ultrapassada. E para muita gente, uma recessão poderá ser o prelúdio de uma crise semelhante. A verdade é que não temos razões para acreditar que é isso que está a suceder. A crise de 2008 começou ainda em 2007 com uma crise financeira de grandes proporções, o que não está suceder actualmente. E dificilmente a crise económica de 2008 teria atingido as proporções que atingiu se não tivesse havido a crise financeira.

Em segundo lugar, não podemos estar inteiramente tranquilos devido ao ambiente político. Se a perspectiva de uma recessão não deve ser um drama, a verdade é que o ambiente político internacional pode degradar-se ainda mais de tal forma que interaja com a desaceleração ou quebra da actividade económica provocando uma crise económica grave.

A possibilidade de um Brexit sem acordo e as guerras comerciais induzidas pelos EUA podem criar uma turbulência tal que uma simples recessão se transforme numa verdadeira crise.

Por mais que alguns economistas pensem que a Economia funciona com base em comportamentos decorrentes da racionalidade económica, o que é certo é que, quando deixamos o mundo abstracto dos textos académicos e entramos no mundo real, é a Política que comanda (quase) tudo.