Pode um relógio custar 31 vezes o PIB per capita português?
10-10-2018 - 06:46
 • André Rodrigues Paulo Teixeira (sonorização)

Um Tourbillon quádruplo de uma conceituadíssima relojoeira suíça custa mais de 700 mil euros e não tem diamantes nem pedras preciosas. Como é que isso é possível? A diferença está precisamente no Tourbillon.

Há casos em que um simples relógio pode não ser assim tão simples. Imagine um pulso decorado com uma máquina que custa mais de 700 mil euros. Não tem pedras preciosas, nem diamantes. E mesmo assim, para um universo extremamente restrito de obcecados em relógios, este preço pode, no limite, ser razoável.

Falo-lhe de um Greubel Forsey Quadruple Tourbillon, que na gíria relojoeira é um "top of the tops". Talvez, o relógio mais caro do mundo.

Uma edição para lá de exclusiva. É rara. Há apenas quatro modelos desta máquina concebida por esta conceituadíssima casa suíça. Com 14 anos de história, produz cinco a seis Tourbillons quádruplos por ano. Nem vale a pena produzir mais. Afinal, são tão caros que não haveria clientela para escoar o stock.

O New York Times estabeleceu uma ordem relativa e concluiu que um só Tourbillon quadruplo paga 100 Rolex Submariner ou 10 mil Casio G-Shock. Ou uma casa de cinco quartos na zona de New Jersey.

Por cá, estes mais de 700 mil euros correspondem a 31 vezes o PIB per capita português estimado pelo Eurostat em 2017. E dariam para comprar um T3 nas Avenidas Novas em Lisboa ou dois duplex T3 no centro do Porto.

Mas, afinal, por que razão um relógio custa assim tanto dinheiro? A resposta está precisamente no Tourbillon.

Não, não é aquela máquina com 20 metros de altura e 180 toneladas que, basicamente, dá umas voltas a muito grande velocidade para testar as capacidades físicas dos aspirantes à carreira espacial.

Não é nada disso. No caso dos relógios, o Tourbillon é uma peça em metal que pesa tanto como uma pena de pássaro, mas torna um relógio banal numa máquina da mais afinada tecnologia. Sim, aquela rodinha que anda de um lado para o outro contraria o efeito da gravidade e, assim, ajuda a controlar a marcha do ponteiro dos segundos com uma precisão mecânica.

Para que fique com uma ideia: em 24 horas, um relógio suíço de boa qualidade pode desencontrar-se até 10 segundos em relação à cronometragem real. Num Tourbillon, esse desvio cai a pique para um máximo de 2,5 segundos.

Mais uma prova, entre tantas, de que grandes diferenças estão nos mais pequenos detalhes.