Arquitetos querem projetar "Panteão das Cinzas"
11-09-2019 - 19:52
 • Liliana Carona , João Pedro Barros

“Finita Existência – Panteão Para Cinzas” tem como objetivo reunir ideias para um lugar de repouso de cinzas e culto da memória.

Onde guardar as cinzas com dignidade e respeito pela memória dos que pretendam ser cremados? É a esta pergunta que pretende responder, pelo menos no que toca a Coimbra, o workshop internacional de arquitetura “Finita Existência – Panteão Para Cinzas”, que vai decorrer entre 17 e 27 de setembro, integrado na programação da Bienal de Artes Plásticas Anozero.

A ideia partiu de dois docentes do departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra, Désirée Pedro e Luís Miguel Correia, ambos de 49 anos, que consideram que a sua disciplina também tem de olhar para os mortos. Desenhar um lugar para repouso de cinzas e culto da memória faz, por isso, todo o sentido.

“Falar da vida é falar da morte, a arquitetura faz casas para os vivos mas também para os mortos. Esse tema faz parte da nossa disciplina e, aproveitando a revisitação que o Papa Francisco colocou à cremação, pareceu-nos que seria uma oportunidade ótima para criar um panteão para as cinzas”, considera Désirée Pedro, que é também membro da direção do Círculo de Artes Plásticas de Coimbra, que co-organiza o workshop.

A docente recorda que a Igreja Católica proclamou, em 2016, aceitar a cremação, que tinha autorizado em 1963, enquanto escolha pessoal, “mas proíbe que as cinzas sejam espalhadas em qualquer lugar, ou divididas entre familiares, lembrando que devem ser mantidas em local sagrado”.

Em Coimbra, há já dois locais em vista para o Panteão das Cinzas: a colina do atual Cemitério da Conchada e o Alto de Santa Clara/Cerca do Convento de Santa Clara-a-Nova, “pelo caráter de fronteira que apresentam”, justifica Désirée Pedro. Para Luís Miguel Correia, o objetivo é também mostrar que são possíveis “outras visões para sítios tão importantes para a cidade”.

O workshop – para o qual as inscrições estão abertas – envolve várias componentes, entre as quais a Teologia, com a presença do padre Nuno Santos, do Seminário Maior de Coimbra. Entre os outros oradores estão os arquitetos Carme Pinós, Manuel Aires Mateus e Maria Manuel Oliveira, o historiador Fernando Catroga, o antropólogo Luís Quintais e o psicanalista Vasco Santos.