Mulheres jovens dizem que fazem mais tarefas domésticas. Não tanto assim, respondem eles.
27-11-2021 - 00:01
 • José Pedro Frazão

As jovens mães colocam a conciliação emprego/ família entre as principais qualidades de um bom emprego, quase ao nível do salário. Um estudo encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e apresentado este fim-de-semana em Lisboa mostra que as mulheres jovens iniciam a sua vida conjugal em desequilíbrio no que toca a tarefas domésticas e depois em cuidado com os filhos.

O exemplo vem muitas vezes de casa. Quando os jovens que vivem em casa com ambos os pais são questionados sobre a partilha das tarefas domésticas, a mãe assume grande parte das tarefas. O estudo encomendado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos à consultora espanhola PRM mostra que em 39% dos casos, a mãe assegura a maioria dos trabalhos em casa e em 36% das situações faz mesmo "todas ou quase todas".

É um modelo que se reproduz nas familias jovens e que nada tem a ver com problemas financeiros. Entre os 62 % de jovens cujos pais vivem juntos e estão vivos, a maioria tem uma boa situação económica, ao contrário dos casos de separação dos pais ou em que apenas um dos pais está vivo, onde a situação económica das mães revela maior fragilidade. " Para mais de um terço é difícil viver com o rendimento actual(21 %) ou é muito difícil viver com esse rendimento (15 %)", revelam os dados deste inquérito.

Quando olham para a sua própria realidade em casal, as mulheres jovens relatam que os seus companheiros masculinos "realizam, em média, 35 % das tarefas domésticas face aos 62 % que elas realizam". Ou seja, elas sustentam que fazem quase o dobro das tarefas domésticas, mas eles não têm a mesma percepção e garantem que "realizam, em média, 45 % das tarefas domésticas face aos 52 % que elas realizam".

Em relação ao pagamento das despesas comuns e da casa, há uma menor discrepância entre homens e mulheres, mas o mesmo já não se observa nas respostas sobre partilha de tarefas domésticas e do cuidado e educação dos filhos.

Mulheres jovens desejam mais conciliação emprego/família

Quando surgem filhos no casal jovem - 16% das situações - as percepções divergentes acentuam-se. "As mães consideram que fazem quase o triplo de tarefas de cuidado e educação dos filhos (em média, acham que elas fazem 70 % e que eles fazem apenas 23 %), enquanto os pais consideram que as mães fazem pouco mais do que eles (em média, os pais acham que as mães fazem 50 % e que eles fazem 44 %)", pode ler-se no estudo encomendado pela FFMS.

Há, no entanto, indicadores que sugerem que a realidade vai sendo menos desequilibrada à medida que a idade aumenta. Depois dos 25 anos, há uma evolução positiva com

mais casais na situação em que «os dois fazem o mesmo» quer nas tarefas domésticas quer no cuidado com os filhos.

Os investigadores sugerem que é por isso que quando questionadas sobre o "emprego ideal", há uma valorização do critério «poder conciliar bem o trabalho e a vida pessoal» que é muito superior nas mulheres face aos homens.

"Ao contrário dos homens, para quem «ter um bom salário» é o aspecto mais valorizado no «emprego ideal», entre as mulheres, o facto de «poder conciliar bem o trabalho e a vida pessoal» é, nas duas primeiras situações, quase tão importante quanto «ter um bom salário» e passa a ocupar a primeira posição do ranking quando as mulheres incorporam a frente da «vida em casal», tenham ou não filhos", concluem os autores do estudo "Os Jovens em Portugal hoje".

O relatório tem por base uma amostra de 4904 jovens entre os 15 e os 34 anos de idade. Os questionários respondidos online foram recolhidos em junho de 2020. A faixa etária analisada tem correspondência em 2,2 milhões de portugueses, segundo dados do INE/ Pordata.