​Um caso deprimente
09-01-2019 - 10:47

A alegada corrupção em cantinas da Força Aérea nada contribui para a recuperação do prestígio dos militares em Portugal.

No Tribunal de Sintra começou nesta semana o julgamento de 68 arguidos que alegadamente terão participado num esquema de corrupção em cantinas da Força Aérea. Claro que só os tribunais – este e eventualmente outros de instâncias superiores – poderão considerar culpados ou inocentes os arguidos. Mas na primeira audiência do julgamento um major da Força Aérea na reserva confessou o seu envolvimento nesse esquema de corrupção, no qual estariam também outros militares e fornecedores.

A confirmar-se, este esquema concretizava-se com os fornecedores a entregarem às cantinas bens alimentares em quantidades muito inferiores às que faturavam. O dinheiro da diferença era repartido por militares – incluindo alguns de alta patente, que receberiam mais – e os fornecedores. E também haveria militares que recebiam para fecharem os olhos.

Segundo o diário “Público”, o Ministério Público está convencido de que este esquema terá funcionado durante décadas. E o major acima referido disse que ele durava há 20, 30 ou mesmo 40 anos. A ser verdade, estamos perante mais um deprimente caso em que as Forças Armadas portuguesas falham na sua postura ética e legal.

O caso de Tancos, ainda que não totalmente esclarecido, já revelou, no mínimo, negligência do Exército na guarda e controlo de armas e munições à sua guarda. O presente caso, de corrupção mais “tradicional” (recordo-me de, antes do 25 de Abril, ter sido descoberto um esquema semelhante nas Forças Armadas portuguesas que combatiam na Guiné-Bissau), nada contribui para a recuperação do prestígio dos militares em Portugal. O que, obviamente, é mau para o nosso país.