Passos: “Nunca embarquei na ideia de que Trump é tão mau que tinha de sair derrotado"
09-11-2016 - 10:18

"Só quem confunda desejo com realidade não atribuiria probabilidade” à vitória de Trump, afirma o líder do PSD à Renascença.



A vitória do empresário Donald Trump nas eleições norte-americanas, esta quarta-feira, não era o resultado desejado pelo presidente do PSD, mas era algo que considerava ser possível.

“Nunca embarquei muito nesta ideia de que o novo Presidente norte-americano é tão mau, tão mau, tão mau, que representaria uma força do mal tão grande, que tinha de sair derrotada”, começa por afirmar Passos Coelho em entrevista à Renascença.

“Na verdade, depois do que aconteceu no Reiuno Unido, eu creio que só quem confunda muito o desejo com realidade e quem ande muito distraído é que não atribuiria qualquer probabilidade de um evento destes poder ocorrer nos Estados Unidos”, sustenta.

Dito isto, Passos Coelho reconhece que “também não estava entusiasmadíssimo com o resultado oposto” – ou seja, com a possível vitória de Hillary Clinton.

Na opinião do líder dos sociais-democratas, as eleições nos Estados Unidos vieram destacar a “insatisfação que te vindo a larvar, sobretudo nas sociedades democráticas”, face “ao resultado da globalização, que tem trazido muitas transformações e incertezas”.

“Muitas pessoas defendem-se através de expressões mais nacionalistas, mais ditas populistas, mais centradas sobre si próprias, às vezes convencidas de que dessa maneira recuperam o seu passado, a sua soberania sobre as coisas e, infelizmente, isso já não é susceptível de acontecer”, analisa.

E Hillary Clinton também não se afastou muito desse registo, defende Passos. “Nós já não víamos, na disputa norte-americana, ninguém que defendesse um modelo de sociedade aberta, livre, global. Todos acusavam este toque [populista], que é mais exponenciado pelo senhor Trump mas que não estava ausente da senhora Clinton”.

“Isso deve fazer-nos pensar um bocadinho que há que travar o passo ao populismo”, conclui Passos Coelho, que não acredita que a globalização seja um processo reversível.

Nesse sentido, defende, “se não actuarmos a tempo, se não formos determinados, se não explicarmos bem aquilo em que acreditamos, se não formos directos na maneira como comunicamos com aqueles que normalmente não vão votar e que estão insatisfeitos, acabamos depois por receber das pessoas uma indicação de que não se importam muito com as mudanças – mesmo quando elas nos parecem extremamente incertas – porque acham que já não têm nada a perder e que podem recuperar um mundo que já desapareceu e que dificilmente poderá reemergir”.

Quanto às consequências no plano externo, Passos diz não haver “forma de poder antecipar com rigor o que vai ser a acção da nova administração americana”, mas que “se valorizarmos aquilo que foi dito em campanha eleitoral e aquilo que tem sido a afirmação política do candidato Trump, deveríamos estar preocupados” e “ não creio que seja uma boa notícia para a Europa”.

“Mas deixe-me dizer-lhe que esse processo também está em curso na Europa”, salienta, considerando que “vamos passar por uma fase em que é preciso deixar assentar um bocadinho a poeira para ver o que, exactamente, o Presidente Trump vai trazer de diferente do candidato Trump”.