Há quem lhe chame o sempre-em-pé, dado que tem conseguido manter-se à frente do Governo britânico apesar de sucessivos escândalos. Mas será que Boris Johnson consegue resistir a mais um?
Esta quarta-feira, pelo menos mais três membros do Governo renunciaram aos cargos por perda de confiança no primeiro-ministro, com o número de políticos que exigem a sua demissão a aumentar a cada hora.
No mês passado, Johnson sobreviveu résvés a uma moção de censura no Parlamento, o que lhe garante 12 meses de imunidade até uma nova poder ser apresentada no Parlamento. Contudo, até dentro do Partido Conservador aumentam as pressões para que se demita.
Alguns legisladores estão empenhados em alterar as regras para reduzir esse período de imunidade. Outros já pediram diretamente aos ministros de Johnson que sigam as pisadas dos cinco demissionários para forçar a saída do primeiro-ministro.
Mas afinal, porque é que Boris está sob fogo? E o que pode acontecer nos próximos dias?
O caso Pincher
Chris Pincher era, até esta semana, deputado e vice-presidente da bancada conservadora, até ter sido suspenso pelo partido por alegações de assédio sexual.
Pincher é acusado de apalpar dois homens num clube privado em Londres. Quando as acusações surgiram, Johnson garantiu que mantinha total confiança nele, mas viria a saber-se mais tarde que já tinha recebido outra queixa contra o deputado em 2019.
Boris diz que não se lembrava dessa instância e assumiu que foi "um erro" não agir na altura. Contudo, continua a rejeitar os pedidos para abandonar o cargo.
Pode Boris ser afastado?
A opção mais óbvia é o primeiro-ministro decidir que já perdeu demasiados apoios e demitir-se. Mas até agora, não deu qualquer sinal de que esteja disposto a isso.
Uma segunda alternativa é que mais ministros e outros elementos do executivo decidam seguir o caminho de Rishi Sunak, Sajid Javid, Will Quince, John Glen e Laura Trott e renunciem aos seus cargos, quase seguramente forçando Boris a demitir-se.
Contudo, os media britânicos sugerem que ministros de renome como a dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss, o da Defesa, Ben Wallace, e o da Habitação, Michael Gove, não pretendem demitir-se.
Quanto à opção de se alterarem as regras para que uma nova moção de confiança possa ser apresentada em menos de um ano, tudo dependerá das eleições para o chamado Comité 1922, responsável por delinear essas regras, que terão lugar em breve, adianta a Reuters.
E se Boris se demitir?
Caso o primeiro-ministro saia (por decisão própria ou porque foi forçado a tal), dá-se início ao processo para encontrar um novo líder do Governo, um que é supervisionado pelo Comité 1922 e que funciona da seguinte forma:
- cada interessado em suceder a Boris Johnson tem de ser nomeado por pelo menos dois outros legisladores conservadores
- fechada a lista de candidatos, iniciam-se rondas de votação no Partido Conservador para reduzir o número de potenciais sucessores: em cada ronda, os membros do partido escolhem o seu candidato favorito por voto secreto; na ronda seguinte, sai da lista o candidato menos votado.
- este processo é repetido até restarem apenas dois candidatos, que vão figurar nos boletins de voto enviados por correio a todos os militantes do Partido Conservador. O mais votado é nomeado novo líder do partido e, por conseguinte, do Governo. Este líder não tem de convocar eleições antecipadas, embora tenha o poder de o fazer.
Quanto tempo demora todo o processo?
Pode variar, dependendo de quantos conservadores se apresentam como candidatos à liderança.
Em 2016, quando o Reino Unido passou por este processo, Theresa May tornou-se líder do partido menos de três semanas depois de o seu antecessor, David Cameron, ter resignado aocargo em 2016, também graças ao facto de alguns candidatos terem desistido a meio da corrida.
Mais tarde, em 2019, Boris Johnson enfrentou o ex-ministro Jeremy Hunt nas eleições internas para substituir May, e assumiu o poder dois meses depois de esta ter anunciado a sua demissão.
Quais são os potenciais candidatos à sucessão?
Neste momento são citados pelo menos sete potenciais candidatos à liderança do Partido Conservador caso Boris Johnson abandone o cargo, incluindo:
- a atual ministra dos Negócios Estrangeiros, Liz Truss
- o antigo ministro da Saúde, Jeremy Hunt -- que perdeu as eleições internas para Johnson em 2019 e que já assumiu que o seu desejo de ser primeiro-ministro "ainda não desapareceu completamente"
- Ben Wallace, atual ministro da Defesa que, nos últimos meses, se tornou num dos mais populares membros do Governo graças à gestão da guerra da Ucrânia
- Rishi Sunak, até esta semana ministro das Finanças e um dos primeiros a declarar perda de confiança em Boris Johnson
- Sajid Javid, o primeiro ministro a saltar fora do Governo, renunciando ao cargo de ministro da Saúde
- Nadhim Zahawi, recém-nomeado ministro das Finanças em substituição de Sunak e que na semana passada declarou que seria "um privilégio" ser primeiro-ministro
- Penny Mordaunt, ex-ministra da Defesa que Johnson despediu quando se tornou primeiro-ministro após esta ter apoiado Hunt na corrida interna à liderança conservadora