Astronautas falam ao Papa da “beleza indescritível” da Terra, vista do espaço
26-10-2017 - 14:57

Francisco esteve esta quinta-feira em diálogo com a Estação Espacial Internacional, colocando várias perguntas aos astronautas que a compõem.

O Papa Francisco está habituado a ser o homem que responde às perguntas dos seus interlocutores, mas, esta quinta-feira, os papéis inverteram-se, tal como se confundem no espaço as noções de cima e baixo.

Francisco esteve em diálogo com os seis astronautas que compõem a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) e, desta vez, quem fez as perguntas foi o próprio Papa.


Desde o papel do amor no universo a questões práticas, como o que os levou a tornarem-se astronautas, os membros da estação responderam a tudo, enfatizando a importância da colaboração e tudo o que isso representa para o futuro da humanidade.

A primeira pergunta que o Papa fez foi no sentido de saber como os astronautas encaram as grandes questões da humanidade. “De onde vimos, para onde vamos. À luz da vossa experiência no espaço, o que pensam do lugar do homem no universo?”

A resposta foi dada pelo astronauta italiano Paolo A. Nespoli, que, durante toda a conversa, foi traduzindo as perguntas e as respostas para benefício dos seus colegas, todos russos ou americanos.

Nespoli confessou a sua dificuldade em responder: “Eu sou um homem prático, um engenheiro. Mas, quando penso nestas questões, fico perplexo. Penso que o nosso objectivo, cá, é de contribuir para o conhecimento. A nossa essência é o conhecimento. Quanto mais conhecemos, mais nos damos conta de que sabemos pouco.”

O astronauta italiano disse ansiar o dia em que “pessoas como você, teólogos, filósofos, poetas, escritores, possam vir ao espaço para ver o que vos diz ver o homem no espaço.”

Amor que move o universo?

Depois, o Papa apontou para uma obra de arte que estava por detrás da sua secretária e que ilustra uma passagem do último canto da “Divina Comédia”, de Dante, sobre o amor como força que move os astros. “Que sentido faz para vocês chamar amor à força que move o universo?”, perguntou.

A resposta foi dada pelo astronauta russo Alexander Misurkin, que disse encarar o amor como “a força que nos dá a capacidade de dar a vida por outro”.

O Papa perguntou, de seguida, o que é que os tinha inspirado a tornarem-se astronautas e quais as maiores alegrias que sentiam na estação espacial. Sergey Ryanzansky, da Rússia, respondeu que foi o seu avô, um engenheiro russo que esteve envolvido na construção do Sputnik, o primeiro satélite a orbitar a terra. “Para mim, é uma tremenda honra dar seguimento ao seu sonho porque a exploração espacial é o futuro da humanidade e a próxima fronteira para todas as ciências."

Já o americano Randi Bresnik disse que aquilo que lhe dá mais alegria é “olhar pela janela e ver a criação de Deus pela sua própria perspectiva. Não é possível vir até aqui e ver a indescritível beleza do nosso planeta, sem ser tocado na alma”.

“Quando vemos a paz e a serenidade do nosso planeta, enquanto roda a 10 quilómetros por segundo, não há fronteiras, não há conflito, tudo é paz e a espessura da nossa atmosfera faz-nos compreender o quão frágil é”, continuou o americano. “Nós estarmos aqui a trabalhar em conjunto devia ser um exemplo para a humanidade, para que, à medida que vamos explorando mais o espaço, o futuro da humanidade possa ser melhor do que é actualmente.”

O Papa reflectiu então como as respostas de ambos se complementavam. “O primeiro voltou às raízes, ao avô. Ele, que veio da América, compreendeu que a terra é muito frágil, ele tenta vê-la com os olhos de Deus. O avô, e Deus. A raiz, a nossa esperança e a nossa força… Obrigado!”

União que faz a força

Francisco pegou então na deixa do astronauta sobre a colaboração e como ela pode ser um exemplo para a “nossa sociedade individualista”, pedindo aos astronautas que falassem mais sobre isso.

Tomou então a palavra Joe Acaba, um astronauta americano de ascendência porto-riquenha que disse que, embora a estação seja um exemplo de colaboração internacional, “o que é mesmo interessante" é que as "diferenças" tornam os seis astronautas "mais fortes. Ao colaborar, conseguimos fazer as coisas melhor do que faríamos enquanto indivíduos”, disse.

O Papa despediu-se dos seus interlocutores tratando-os como "irmãos" justificando: "Porque vos sinto representantes da humanidade.”

“Agradeço do coração esta conversa, que muito me enriquece. O Senhor abençoe o vosso trabalho e as vossas famílias. Asseguro que rezo por vocês, rezem também por mim”, disse Francisco.

Os astronautas agradeceram ao Papa tê-los "levado a sair das coisas mecânicas do dia-a-dia e pensar nas coisas maiores da vida”.