​O conflito EUA-Turquia
13-08-2018 - 06:44

Não é impossível que as sanções americanas à Turquia afastem este país da NATO.

A semana começa com alguma preocupação, suscitada pelo conflito entre Trump e Erdogan. O presidente americano está a usar a arma económica (duplicou os direitos aduaneiros nos EUA sobre o aço e o alumínio importados da Turquia) para pressionar as autoridades turcas a libertar um pastor evangélico, mantido em prisão domiciliária. Antes, outras sanções tinham sido impostas à Turquia por Washington. Não são os direitos humanos que fazem mover Trump - ele quer agradar aos evangélicos, tendo em vista as eleições intercalares de Novembro.

O presidente Erdogan recusa ceder e apela aos turcos para ajudarem nesta guerra económica, trocando os dólares, os euros e o ouro que eventualmente possuam pela moeda turca. Mas o câmbio desta, que já estava baixo, caiu 20% após Erdogan falar...

Esta situação causou nervosismo nos mercados, pois há vários bancos europeus que detém dívida privada e pública turca, cujos juros a dez anos atingiram 22%, um nível astronómico. O banco espanhol BBVA, por exemplo, na sexta-feira caiu mais de 5% na bolsa de Madrid.

Erdogan, que há um mês e meio viu consagrados em eleições os seus poderes quase absolutos, tem convicções absurdas em matéria de política económica. Não gosta de taxas de juros elevadas, que considera inflacionárias (uma novidade absoluta na doutrina económica). E o banco central da Turquia obedece ao presidente, não mexendo nos juros, apesar de o défice externo do país quase atingir os 6% do PIB e a inflação ultrapassar os 15%.

O crescimento económico turco abranda, mas ainda se encontra a ritmo razoável. O problema é o endividamento do Estado turco e também das empresas, que frequentemente obtiveram crédito em dólares e euros. Por isso a moeda turca, a lira, tem vindo a cair desde 2014, mas agora a queda acelerou de forma brutal. Acentua-se a saída de capitais da Turquia.

Do lado de Trump, o seu isolacionismo evita intervenções militares, mas joga em força com o poder financeiro e económico dos EUA para impor a sua vontade. Ora a Turquia é membro da NATO, como os EUA. Erdogan fez saber que já tinha conversado pelo telefone com Putin. E um comunicado do Kremlin informou que tinham debatido problemas económicos e comerciais. Irá a aproximação entre a Turquia e a Rússia levar, a prazo, os turcos a saírem da NATO?