Líbano. O mistério do primeiro-ministro desaparecido
09-11-2017 - 14:48

Saad al-Hariri demitiu-se através de uma declaração lida na televisão a partir da Arábia Saudita, onde se encontrava de visita e de onde não regressou. Braço de ferro entre Riade e Teerão terá feito mais uma vítima.

A estabilidade e a paz no Líbano estão novamente ameaçadas pelos jogos de poder regionais, mas o último episódio assume contornos bizarros, com acusações de que o primeiro-ministro do país se encontra retido na Arábia Saudita.

A variedade étnica e religiosa no Líbano torna particularmente difícil o equilíbrio político e social. A população está dividida entre cristãos, muçulmanos sunitas e muçulmanos xiitas. Há um consenso político que reserva cargos para membros de cada uma das comunidades. O Presidente, por exemplo, é sempre um cristão maronita e o primeiro-ministro é sempre sunita.

O actual primeiro-ministro, Saad al-Hariri, era um aliado da Arábia Saudita, a grande potência sunita do Médio Oriente, mas tinha na sua coligação o Hezbollah, uma força política e paramilitar xiita, com fortes ligações ao Irão, a grande potência xiita da região, que se encontra num braço de ferro com os sauditas.

O Iraque e a Síria são dois dos outros palcos deste braço de ferro, onde o Irão tem ganho clara vantagem.

No sábado passado, Hariri estava de visita à Arábia Saudita quando apareceu na televisão a ler uma declaração em que se demitia, dizendo que temia ser assassinado se voltasse ao Líbano. A decisão apanhou o país de surpresa e ameaça lançá-lo numa profunda crise, com o próprio partido do primeiro-ministro a insistir que ele foi obrigado a demitir-se pelo Governo saudita e a exigir o seu regresso.

O Governo libanês insiste que Hariri ainda é primeiro-ministro, uma vez que a sua demissão não chegou ao Presidente Michel Aoun

Fontes próximas de Hariri, contactadas pela agência Reuters, confirmam a tese de que o político foi obrigado a demitir-se. “Quando foi lá pediram-lhe que ficasse e foi obrigado a resignar. Obrigaram-no a ler a declaração de demissão e desde aí que está sob prisão domiciliária”, diz uma fonte, que pediu para não ser identificada.

Perante esta situação o Líbano pondera pedir à comunidade internacional que exerça pressão sobre a Arábia Saudita para a obrigar a libertar o seu primeiro-ministro.