Um Governo fraco com maioria absoluta
26-05-2023 - 06:00
 • Francisco Sarsfield Cabral

O ministério da Agricultura vai proibir culturas muito dependentes de água e estimular culturas menos dependentes no Alentejo e Algarve. Porque não se tomaram estas medidas há mais tempo? Provavelmente porque o Governo é fraco, apesar de dispor de uma maioria absoluta.

A ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, anunciou há dias que não vão ser autorizadas culturas permanentes no Alentejo e no Algarve, enquanto se mantiver a seca severa e extrema. Essas culturas são o olival intensivo, o abacate e os frutos vermelhos. São culturas que exigem muita água; a ministra também anunciou que irão ser incentivadas culturas menos consumidoras de água.

Os aguaceiros que ocorreram nos últimos dias não fizeram recuar a seca; daí aquelas medidas anunciadas pela ministra da Agricultura. Nada a opor a tais medidas, apenas se estranha que não tenham sido tomadas muito mais cedo. Como aqui já lembrei, a seca, que agora a agricultura portuguesa sofre, nada tem de surpreendente – há anos que é conhecida a forte probabilidade de termos cada vez mais períodos de semanas ou até de meses durante os quais não chove ou chove muito pouco.

Assim, desde há pelo menos um ano que se justificariam proibições para culturas agrícolas consumidoras de muita água e estímulos a culturas menos dependentes de água. Então, porque esperou o Governo para só agora tomar medidas de emergência como estas?

Não creio que fosse qualquer esperança de que a chuva viesse aliviar a seca. Não era provável tal alívio. Na minha opinião, a demora teve sobretudo a ver com a falta de autoridade do Governo. Impor proibições e incentivar outras culturas são medidas que implicam para os agricultores mudanças custosas; foi assim preciso esperar por se concretizarem situações dramáticas provocadas pela seca no Alentejo e no Algarve para que os agricultores envolvidos se tornassem mais recetivos aos incómodos da mudança.

Trata-se da célebre navegação à vista, que A. Costa tem seguido na sua governação, mesmo depois de ter obtido no Parlamento uma maioria absoluta. Por outras palavras, parece ter sido inútil a maioria absoluta, que deveria dar força aos governantes para avançarem com medidas consideradas impopulares, mas necessárias. Com a atitude receosa do Governo todos perdemos.