Afonso e Pedro Sousa são gémeos de 24 anos. No próximo domingo vão ser ordenados padres numa cerimónia no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.
Ao todo vão ser ordenados dez novos padres: cinco do seminário diocesano, um do seminário Redemptoris Mater, três religiosos franciscanos e um paulista.
No caso dos dois irmãos, este é o culminar de um percurso formativo de dez anos no Patriarcado de Lisboa, numa escolha vocacional que fizeram cedo, embora não em simultâneo.
“Comecei por ser eu. Tinha cinco ou seis anos, as pessoas perguntavam ‘o que é que queres ser quando fores grande?’, eu dizia que queria ser padre e aquilo ficou dentro de mim”, conta Pedro, que se lembra de pensar que o prior da paróquia onde ia em família já estava velhinho e alguém tinha de o ajudar. “Quem é que um dia vai estar no lugar dele?”.
Afonso nunca disse que queria ser padre, mas lembra que era hábito dos dois brincarem às missas, “imitar” o que viam na igreja. “Sinto que estas brincadeiras iam sendo sinais de Deus, e que eu e o Pedro íamos dando aqui alguns passos”.
Aos 14 anos Pedro foi para o pré-seminário, mas o irmão só entraria um ano depois. Foram ambos desafiados a fazerem esta experiência formativa, mas em casa “não foi fácil” aceitar a escolha.
“Não basta a família ir à missa todos os domingos, ou estarem na vida da Igreja, para automaticamente haver um sim garantido”, contam. Não era que os pais não quisessem ter filhos padres, mas achavam que eram “novos demais” para irem para o seminário. Mas aconteceu mesmo, obrigando toda a família a reorganizar-se. “Iam visitar-nos ao seminário. Era como ir passar o domingo em casa da avó”.
Reconhecem que a família foi muito importante na descoberta da vocação. “Foi quem nos apresentou a vida de Jesus”, e hoje “estão felizes, os nossos pais e as nossas irmãs”.
E os amigos, como reagiram? “Foram aprendendo a perceber que a prioridade agora era estar com Jesus, mesmo que gostássemos de estar com os amigos”.
O caminho de Pedro e Afonso foi idêntico, mas diferente. “Eu não fiz o discernimento pelo Afonso, nem o Afonso por mim, cada um foi fazendo o caminho sem querer bloquear o outro”. E até no seminário tentaram sempre mostrar que não estavam dependentes. “À refeição não nos juntávamos, tanto que os nossos pais brincavam, quando chegávamos a casa, porque estávamos o tempo todo a pôr a conversa em dia!”.
O “bichinho da rádio”
Pedro e Afonso cresceram com a rádio sempre por perto, ou não seja este um meio a que o pai e a mãe estão ligados profissionalmente.
“Quando brincávamos às missas não nos faltava nada, nem o microfone, esta questão técnica do som”, lembra Afonso, que já fez os comentários da missa dominical na Renascença, e teve projetos nesta área com o irmão, incluindo um podcast.
Pedro diz que o que aprenderam com os pais lhes deu “mundo” e conhecimento. “Gostamos muito de ouvir boa música, e sabemos que também nestes meios se pode anunciar e evangelizar”. E acrescenta: “o padre não é só aquele celebra missas, é muito mais do que isso. É preciso ter uma visão integral do sacerdócio”.
Os dois desdramatizam o facto de, indo ser padres não poderem casar, e garantem que o celibato não é um problema, porque “é uma escolha livre, não é um fardo. Ninguém me obriga a ser padre, fui chamado por Deus, mas fui eu que escolhi”.
Crise de vocações? “Falta gente que ‘pique’ os jovens”
Pedro e Afonso Sousa reconhecem que o modelo de sacerdócio pode não ser atrativo para os jovens de hoje, mas se há “crise de vocações” tem de se falar primeiro da crise nas famílias. “O ambiente familiar tem de ser propício a poder escutar a voz de Deus. Será que hoje há espaço para haver silêncio e escutar?”, perguntam.
“O Senhor continua a chamar com a mesma intensidade, menos gente responde porque não tem um ambiente propício para responder: se os pais não falarem aos filhos da experiência boa que é participar na missa, se os catequistas não falarem da importância do encontro com Jesus, se o prior não chamar, então não é fácil”. No fundo, dizem, “falta gente que possa ‘picar'".
“Nós fomos picados, provocados por um padre que nos chamou. Claro que as inquietações em pequeno, de dizer que queria ser padre, não sei explicar muito bem porque é que isto estava dentro de mim, mas depois foi um padre que me puxou”, lembra Pedro.
Afonso acrescenta: “o método com que fomos chamados, eu e o Pedro, tem mais de 2000 anos de garantia! É o método com que Deus chamou os apóstolos”. E esperam que as Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa ajudem outros jovens a descobrir a vocação.
E agora que estão prestes a ser ordenados, como se imaginam já a exercer o sacerdócio?
“Eu quero ser um daqueles padres que consegue chegar às pessoas, que não seja eu a surgir, mas seja Jesus a surgir em mim”, diz Pedro.
Afonso lembra que “Jesus não é coisa do passado, uma realidade histórica. Jesus está vivo. E há tanta gente que precisa de ouvir isto: ‘Deus ama-te’. Eu vejo-me a ser padre e a dizer isto às pessoas, a mostrar a alegria que é seguir Jesus”.
Este domingo, 3 de julho, para além de Pedro e Afonso Sousa, da paróquia de Tires, vão ser ordenados padres para o Patriarcado de Lisboa, Diogo Tomás e Fábio Alexandre, ambos da paróquia de Évora de Alcobaça, Lourenço Lino, da paróquia de São João de Deus, e Angel Azcurra, da paróquia de Nuestra Senora de Luján, em Cipolletti, Argentina. Pertence ao Caminho Neocatecumenal e que frequentou o Seminário Redemptoris Mater, em Caneças.
Na mesma celebração, nos Jerónimos, presidida pelo cardeal patrairca, serão igualmente ordenados três novos sacerdotes da Província Portuguesa da Ordem Franciscana - Paulo Faria, Sérgio Pinheiro e Márcio Carreira -, e um do Instituto Missionário Pia Sociedade de São Paulo (Paulistas), Jorge Maldonado.