Sete notas e uma conclusão das presidenciais mais enfadonhas de sempre
24-01-2016 - 23:42


1 - Marcelo Rebelo de Sousa ganhou. Outra coisa nunca foi de esperar, tentou passar o mais discretamente possível pela campanha eleitoral, fez-se humilde e debateu com todos encenando a farsa do igual para igual, esteve à vontade na rua e igual a si próprio, preferiu não dizer nada a dizer alguma coisa que o prejudicasse e, finalmente, para quem não está habituado ao confronto, encaixou todos os ataques que lhe fizeram com grande "fair-play".

O candidato, seguiu à risca os conselhos do comentador, fez tudo de acordo com as regras e alcançou o objectivo: ganhar à primeira volta e de forma muito mais folgada do que a primeira eleição de Cavaco em 2006 (50,54%).

2 - Maria de Belém provou o cálice amargo que bebe quem contraria o líder. É certo que a campanha foi fraquíssima, mas grande parte disso explica-se com o que aconteceu nos bastidores. As queixas de batota do PS em relação a estas presidenciais não aconteceram por acaso e vieram da boca de quem conhece melhor do que ninguém como funcionam estas coisas.

3 - Há uma máquina que sabe dinamizar campanhas que pertence aos partidos e que um dia a história há-de contar em que campanha esteve a trabalhar. Diz o ditado que não há coincidências e se o ditado fala verdade a história da decisão do Tribunal Constitucional sobre as subvenções vitalícias, “como a da nau Catrineta”, terá muito que contar.

4 - Numa campanha em que, pelo menos, quatro candidatos se deram ao trabalho de recolher assinaturas para conquistar o voto descontente e de protesto, com campanhas mais ou menos populares, apenas o candidato verdadeiramente popular conseguiu o objectivo, e não será de desdenhar o facto de, como o próprio diz, Vitorino Silva estar na vida política há muitos anos.

5 - É curioso, sintomático e terá consequências? O facto de o candidato comunista ter apenas mais 28 mil votos do que Tino de Rans. Edgar Silva levou o PCP para o buraco de onde o partido, que agora faz parte de um trio que apoia o governo, vai ter que sair rapidamente, sob pena de começar a desaparecer do mapa político nacional.

6 - Consequência directa da desgraça do PCP, Marisa Matias e o Bloco de Esquerda são mais uma vez os segundos grandes vencedores desta noite eleitoral. A candidata bloquista segurou o recorde eleitoral do Bloco em percentagem embora tenha perdido quase 100 mil votos.

7 - Mas como no fim do dia o que conta é o que estes dois partidos vão fazer com os resultados obtidos, adivinha-se uma revolução na Soeiro Pereira Gomes e muitas dores de cabeça para o governo socialista que vai ter que gerir no Parlamento um Bloco de Esquerda inchado e um Partido Comunista obrigado a ter que fazer prova de vida. Não se adivinham tempos fáceis para a “geringonça”.

PS - Finalmente resta dizer que agora sim: depois de ganhar como queria as eleições, Marcelo Rebelo de Sousa fez um verdadeiro discurso presidencial (há tanto tempo que não ouvíamos um) e demonstrou porque é que mais de 52% dos eleitores lhe entregaram a chave do Palácio de Belém.