Comprar equipamento militar não é o melhor caminho para a paz
11-07-2018 - 06:54
 • Eunice Lourenço (Renascença) e Helena Pereira (Público)

Em entrevista à Renascença e ao "Público", o ministro diz que a atual administração americana se foca demasiado no compromisso de aumentar a despesa com a Defesa e Segurança.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, assume que há uma diferença de pontos de vista entre os Estados Unidos e a Europa no que diz respeito à Nato. E defende que não é a compra de armamento o melhor caminho para a paz, mas sim o apoio do desenvolvimento.

Na Cimeira da Nato de 2014, no País de Gales, os países membros da Aliança Atlântica comprometeram-se a, até 2024, atingirem a meta de destinar dois por cento do seu produto interno bruto (PIB) para a segurança e Defesa. Esse compromisso tem sido insistentemente lembrado pelo Presidente norte-americano , Donald Trump, que se queixa sobre a fraca contribuição dos aliados europeus para o orçamento da Organização do Tratado do Atlântico Norte.

“A atual administração americana foca-se muito apenas nos dois por cento, a perspetiva europeia é mais lata, mas haverá aproximação necessária entre as partes. Para isso é que também se faz a cimeira”, diz Santos Silva sobre a cimeira que começa esta quinta-feira em Bruxelas.

Portugal consagra atualmente cerca de 1,36 por cento do PIB a despesas em Defesa, segundo os dados divulgados esta terça-feira pela Aliança Atlântica. O relatório da Aliança revela que apenas quatro países, além dos Estados Unidos -- Grécia, Estónia, Reino Unido e Letónia -- já atingem a "meta" dos dois por cento.

Augusto Santos Silva garante que Portugal vai ser fiel a essa compromisso, que foi revalidado na cimeira de Varsóvia, em 2016. Mas diz que não se promove a paz no mundo a comprar equipamento militar.

“Para os europeus, mas também certamente para os canadianos, o investimento na segurança e a nossa defesa e a defesa do nosso bem-estar e das nossas instituições passa também crucialmente pelo nosso apoio ao desenvolvimento”, diz o ministro, para quem, “por vezes, há a tentação de pensar que para promover a paz no mundo devemos comprar e comprar e comprar equipamento militar”.

“Todos os europeus sabem que a nossa melhor contribuição para a paz no mundo é apostar no desenvolvimento, são as parcerias para o desenvolvimento com os países de que estamos mais próximos ou os países que precisam do nosso apoio para estabilizar as respetivas instituições e para melhorar as perspetivas de vida das populações”, defende Santos Silva, acrescentando: “Não estamos a discutir armamento militar, estamos a discutir a responsabilidade da Europa de assumir mais a sua quota parte em matéria de segurança e estamos também a falar dos métodos, dos caminhos necessários para promover a paz.”

Nesta entrevista, o ministro defende que o compromisso com a Nato implica também a possibilidade de desenvolver a industria nacional de Defesa, nomeadamente a indústria naval.