Presidente da APAF critica dirigentes. "Futebol português é um 'reality show'"
24-11-2016 - 12:48
 • José Pedro Pinto

Eleito a 30 de Maio, Luciano Gonçalves está prestes a completar seis meses de mandato. As críticas e as ameaças aos juízes, o caso dos "vouchers" e o vídeo-árbitro analisadas pelo líder da associação de classe dos árbitros.

O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) lança, em entrevista a Bola Branca, um duro ataque à postura dos dirigentes relativamente às prestações dos juízes, na presente temporada.

Luciano Gonçalves, que no final do mês cumpre os primeiros seis meses de mandato na liderança da associação representativa da classe, considera que o clima crispado que se tem vivido no futebol português assemelha-se a um "reality show" que em nada engrandece ou credibiliza o desporto.

Tal como em outras épocas, os árbitros estão no epicentro da discussão e com o FC Porto a ser, até ver, o emblema que mais críticas tem protagonizado neste aspecto. Ainda assim, Luciano Gonçalves não particulariza.

"O futebol português, com estas críticas, é um autêntico 'reality show'", começa por dizer o líder da APAF, generalizando e assegurando que, contudo, "os árbitros estão abstraídos disso".

"O que interessa aos árbitros é perceber onde erraram e, na semana seguinte, tentar errar o menos possível. Em relação a esse ambiente crispado, a APAF e o Conselho de Arbitragem têm a responsabilidade de dar boas condições aos árbitros para errarem o menos possível", salienta o jovem dirigente de 36 anos, eleito a 30 de Maio deste ano para a liderança da entidade.

"12 árbitros foram agredidos nas últimas três semanas"

Atestando que, quando os árbitros "estão menos bem erram, são castigados na avaliação dos observadores", Luciano Gonçalves revela a real dimensão daquilo que considera ser um "problema grave" que o ambiente adverso tem vindo a provocar. As ameaças "constantes" estão a passar a agressões. E um pouco por todo o país.

"É um motivo de reflexão: Nas últimas três semanas, foram 12 árbitros agredidos em todo o país. Isso é que não pode acontecer e temos de perceber porquê", defende.

Caso dos "vouchers" não tira o "sono" ao líder da APAF

Ainda está na ordem do dia. O famigerado caso dos "vouchers" oferecidos pelo Benfica a equipas de arbitragem e observadores, denunciado pelo Sporting, continua a fazer correr muita tinta. O tema não melindra o presidente da APAF. O que importa perceber é a legalidade de tudo.

"Caso dos 'vouchers'? Não me tira o sono. O que tem de ser clarificado é o que é ou não legal. Não é que qualquer árbitro se deixe corromper por uma camisola. E também não é um jantar que promove isso. É preciso que se 'mate' este assunto. Às vezes, os dirigentes podem dar um saco de maçãs às equipas de arbitragem e ter uma intenção deturpada", argumenta.

Vídeo-árbitro, novas tecnologias e uma questão de "mentalidade"

A arbitragem portuguesa está na linha da frente dos testes intensivos que têm sido levados a cabo pelo International Board e pela FIFA relativamente à introdução do vídeo-árbitro no futebol. Recentemente, uma equipa liderada por Artur Soares Dias dirigiu um encontro entre Itália e Alemanha, que serviu de "tubo de ensaio" real para a implementação do meio de auxílio aos juízes.

Luciano Gonçalves defende esta "ajuda" mas a questão reveste-se de outra necessidade premente. Pelo menos, no que ao futebol português diz respeito.

"As novas tecnologias, só por si, não resolvem tudo", alerta. "A arbitragem precisa da ajuda tremenda que elas dão mas isso não elimina a totalidade dos erros. Se toda a estrutura do futebol não mudar a mentalidade, ao mesmo tempo que fizermos a implementação das novas tecnologias, não vamos valorizar e aproveitar o que de bom essas tecnologias têm", remata.