​Criticar o capitalismo
19-07-2021 - 09:11

Qual é a alternativa que nos oferecem aqueles que consideram o capitalismo uma exploração sem remédio? A resposta é zero. Mas esses críticos radicais deveriam avançar com alternativas futuras, pensadas agora. Não basta criticar.

O Presidente J. Biden anunciou um conjunto de mais de 70 medidas destinadas a promover a concorrência em mercados onde se tem registado uma crescente concentração empresarial. Nos EUA a determinação de combater situações de escassa ou mesmo nula concorrência já não é a mesma do que aquela que, em 1911, dividiu a monopolista Standard Oil em 34 unidades empresariais.

Como seria de esperar, multiplicaram-se nos EUA as reservas empresariais às medidas anunciadas por Biden, do sector da saúde aos transportes. Os gestores proclamam frequentemente as maravilhas da economia de mercado e da livre concorrência, mas reagem mal quando a competição lhes bate à porta. “Capitalismo sem concorrência não é capitalismo - é exploração”, disse Biden.

Veremos até que ponto estas medidas beneficiam os consumidores americanos e as PME. Mas elas evidenciam, antes de mais, a capacidade reformadora do capitalismo. A economia de mercado tem muitos defeitos, mas pelo menos é susceptível de melhoria. A história dos últimos dois séculos revela que o capitalismo evoluiu, nem sempre da melhor forma do ponto de vista social, mas globalmente em sentido positivo. Só que o colapso do comunismo soviético gerou em certos meios empresariais do Ocidente um clima de eufórico “vale tudo” para ganhar dinheiro.

Claro que o capitalismo selvagem deve ser criticado, pois ele é a “economia que mata”, nas palavras do Papa Francisco que tanto escandalizaram há poucos anos. Mas o Papa não condenou a economia de mercado, porque esta é reformável. São benvindas as críticas que levem a melhorias, a reformas. Começando por ter consciência de que o mercado tem limites.

Já os críticos radicais de inspiração marxista ao capitalismo dirão que a empresa privada é, por natureza, uma exploração (pois o patrão fica com a mais valia do esforço dos trabalhadores, uma tese marxista). As críticas radicais surgem com frequência nos “media” portugueses, vindas do marxismo ou de outras ideologias anti-capitalistas.

Mas qual é a alternativa que nos oferecem aqueles que consideram o capitalismo uma exploração sem remédio? Olhando para aquilo que já se tentou ou tenta no terreno, a resposta é zero.

De facto, o comunismo soviético hoje não entusiasma ninguém, por muito que o PCP mostre nostalgia do tempo em que era comandado à distância, a partir do Kremlin. A alternativa será então o capitalismo de Estado, que revelou na China uma impressionante capacidade de crescimento económico, mas que é acompanhado de uma asfixiante repressão política, exercida pelo partido comunista chinês? Será a Coreia do Norte? Cuba? Venezuela? A Bielorrússia? É manifesto que a resposta apenas pode ser negativa.

Daí a sugestão que faço aos críticos radicais do capitalismo: se não existe alternativa a este regime no plano dos factos, daquilo que já se conhece na realidade, esbocem como funcionaria uma alternativa futura. Pelo menos de vez em quando. Não basta criticar.