Marcelo Rebelo de Sousa marca presença, esta sexta feira, nas adegas e vinhas de São João da Pesqueira. Esta visita acontece na sequência do período negro que a viticultura atravessa, nomeadamente pelo baixo preço e falta de escoamento da uva, bem como a importação de vinho.
Abraão Santos, viticultor na região do Douro, revela à Renascença que vai marcar presença nessa visita, que acontece esta tarde. Embora tenha a consciência de que este é um problema que apenas diz respeito ao ministério da Agricultura, garante que este é uma oportunidade de mostrar ao chefe de Estado que o problema nas vinhas é uma grave "realidade".
O viticultor denuncia que o "principal problema da viticultura" é o "preço miserável" pelo qual as uvas são vendidas e que não fazem justiça ao trabalho feito. "Chega a um ponto que temos que fazer alguma coisa", sublinha. Segundo Abraão, o valor pelo qual lhe compram as uvas "não dá nem para as cultivar".
"Muitos agricultores vão abandonar [o negócio]", confidencia à Renascença, assegurando que não "são dadas condições" e, se tudo continuar igual, prevê um maior "abandono das propriedades". "Um agricultor, neste momento, é um pau mandado que não tem voz ativa", afirma.
Ainda sobre o futuro, Abraão Silva partilha da ideia de que, se nada for feito, demorará "um ano ou dois" para acontecer uma escassez de produção de vinho. "Ou alguém dos nossos políticos cria uma estrutura que nos salve, ou então o Douro tem os dias contados", conclui.
Vítor Herdeiro, membro da Associação dos Viticultores e da Agricultura, garante não estar envolvido na organização de algum protesto desta sexta feira, mas confirma ter conhecimento de "uns movimentos" em São João da Pesqueira feito por "viticultores individuais".
Avança que já foi pedida uma "reunião urgente" sobre o tema ao ministro da Agricultura e que, se nada for feito, vão avançar com mais protestos como o do passado dia 7 de Agosto. "Vamos pedir ao ministro uma medida de apoio à entrega das uvas ao viticultor", diz Herdeiro, que, tal como Abraão Santos, assegura que este é um dos problemas fulcrais da viticultura.
Embora este tenha sido um ano de "produção boa", as adegas e as vinhas "estão cheias de uvas" porque "há muitas casas exportadoras que só aceitam um determinado número de produção". Partilha que estas são as consequências das más colheitas dos anos anteriores e que agora "os agricultores estão a braços com este problema".
Se nenhuma medida for tomada entretanto, as consequências deste problema podem ser mais radicais. "Não se admirem que vão ter, se calhar, uvas despejadas no meio das estradas e no meio das adegas", garante Vítor Herdeiro. Garante que o crescimento da "desilusão" e a "insatisfação" pode levar a uma "revolução na região do Douro".
Para este ano, prevê "uma vendima muito agitada", conclui.