Uma falhada descida de impostos
28-09-2022 - 06:38

O governo de Liz Truss avançou com uma brutal descida de impostos. Mas a medida não agradou aos ricos, que aparentemente beneficiariam dessa descida. Politicamente, o “choque fiscal” deu trunfos ao partido trabalhista.

Reagindo à vitória eleitoral em Itália de um partido de raízes fascistas, os juros da dívida italiana a dez anos ultrapassaram os 4,5% (os juros da dívida portuguesa subiram para 3,2%). Mas na segunda-feira os juros da dívida britânica subiram ainda mais do que os juros da dívida italiana. E a libra esterlina deu um tombo cambial histórico.

Há três semanas disse aqui que a nova primeira-ministra britânica, Liz Truss, apostava tudo na descida dos impostos. Na sexta-feira passada o ministro das Finanças de Truss, Kwari Kwarteng, anunciou uma forte baixa de impostos, como não se via desde há 50 anos. Durante o fim-de-semana o ministro informou que a descida dos impostos anunciada, envolvendo uma perda de receita de 45 mil milhões de libras, não era tudo - descidas adicionais seriam concretizadas ainda no corrente ano.

A ideia era relançar a economia britânica; um maior crescimento económico deverá aumentar a receita fiscal do Estado, segundo o governo britânico. Mas, para compensar a enorme perda de receita fiscal provocada pela baixa dos impostos, K. Kwarteng afirmou que o Governo britânico terá que emitir dívida no valor de 72 mil milhões de libras.

Na segunda-feira o câmbio da libra desceu quase até à paridade com o dólar; é o nível mais baixo de sempre. Os juros da dívida britânica a dez anos passaram os 4,6% na segunda-feira; e ainda ontem estavam acima de 4%.

Os investidores não acreditaram nas contas do ministro britânico e por isso venderam libras. A confiança no governo de Liz Truss sofreu um abalo, do qual não sabemos se irá recuperar.

A desconfiança parte dos mais ricos, que seriam teoricamente beneficiados pelo choque fiscal. Por exemplo, K. Kwarteng eliminou o escalão mais alto do imposto sobre o rendimento das pessoas.

Ou seja, este choque fiscal destinado a aliviar os contribuintes ricos nem a esses logrou agradar. O governo de Liz Truss arrisca-se a ser envolvido numa teia de juros altos, até porque a inflação no Reino Unido está acima dos 10%, sendo de prever que o Banco de Inglaterra suba de novo os seus juros diretores.

Politicamente, esta brutal descida de impostos dá argumentos ao partido trabalhista. O que incomoda muitos conservadores e leva a pensar que o governo de Liz Truss não ficará muito tempo em funções.