​Jorge Cunha: “A moral da Igreja não permite a destruição de embriões”
26-09-2024 - 06:00
 • Henrique Cunha

Professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, especialista em Teologia Moral, Jorge Cunha lembra que "o ser humano não é fabricado, é gerado".

Jorge Cunha, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, reafirma a oposição da Igreja à destruição de embriões.

“A moral nunca deu permissão para criar embriões excedentários. O que a moral da Igreja recomenda é que todos os embriões que são fecundados sejam implantados. Isso é a única coisa que legitima, de certo modo, a ajuda médica à procriação”, diz à Renascença este especialista em Teologia Moral.

"A conservação de embriões apenas se justifica nas situações em que podem vir a ser reimplantados numa ocasião posterior", enfatiza.

Jorge Cunha sustenta que "todos os embriões que são fecundados devem ser implantados" e classifica de "insensatez" o facto de se terem criado embriões em excesso.

"Quem os criou é que, agora, deve encontrar uma resposta, mas, havendo embriões sobrantes, devemos pensar numa solução que aponte para a sua reimplantação numa ocasião futura”, acrescenta.

“É a única maneira que há de justificar a sua existência”, reforça o sacerdote da diocese do Porto.

Terminado o prazo, em agosto, para a preservação dos gâmetas e dos embriões doados sob anonimato, o Bloco de Esquerda quer que o parlamento discuta o projeto de lei que apresentou no sentido de permitir o prolongamento do período de utilização deste material biológico.

Jorge Cunha questiona o objetivo do projeto, lembrando que "do ponto de vista da moral da Igreja, o que não faz sentido é a inseminação de pessoas sozinhas. Isso é que é o problema da base"

"Há boas razões para sermos contra isso, porque o ser humano não é fabricado e, dessa forma, estamos a fabricar seres humanos. O ser humano não é fabricado, é gerado", defende o especialista em Teologia Moral.

"A moral da Igreja é contra as ajudas médicas à procriação das pessoas individualmente", sublinha Jorge Cunha, notando que isso gera "um conflito de direitos, entre o direito dos nascituros de saberem quem são os seus progenitores biológicos e o anonimato dos dadores”.

Nestas declarações à Renascença, Jorge Cunha contraria ainda a ideia de que a Igreja tem alguma dificuldade em falar sobre este tema, lembrando que "a Congregação para a Doutrina da Fé fez um pronunciamento sobre as ajudas médicas à procriação, em 1987”.

“Uma das coisas que legitima, de certo modo, as ajudas médicas, porque a Igreja não é totalmente contra as ajudas médicas à procriação, é precisamente evitar a existência de embriões excedentários. Portanto, se todos os embriões que são produzidos forem implantados, o processo não é sujeito a uma reprovação total por parte da Igreja."

"Há quase 40 anos que temos esse pronunciamento em vigor. Não é de agora que a Igreja se ocupa desta matéria”, remata Jorge Cunha.