O partido de extrema-direita alemão AfD (Alternativa para a Alemanha) está a pedir a alunos que denunciem os professores que mostrem tendências políticas, especialmente se falarem contra o partido. O esquema está a ser comparado pelos críticos a totalitarismo.
O partido, que se tornou no maior partido da oposição depois das eleições de 2017, montou um website chamado "Escolas Neutras", em que os alunos na região de Hamburgo podiam deixar queixas anónimas contra professores e pessoal das escolas que demonstrasse favorecimento político ou criticasse o AfD.
A ministra da Justiça alemã, Katarina Barley, comparou o site aos esquemas de espionagem nazis e a ministra da Educação, Susanne Eisenmann, acusou a ideia de "ferir a democracia". Já Winfried Kretschmann, presidente do estado de Baden-Württemberg, disse na terça que o site são "blocos de construção a caminho do totalitarismo".
Membros do AfD responderam dizendo que a medida "nada tem a ver com denúncia", mas as respostas dos afiliados à extrema-direita não têm tranquilizado os alemães. Segundo o diário alemão Die Welt, muitos sentem que a medida é um resquício ideológico do nazismo e dos tempos da República Democrática Alemã, comunista e aliada da União Soviética. Nesses regimes, os alemães eram fortemente pressionados a denunciarem as tendências políticas dos seus vizinhos, caso não fossem ao encontro do regime.
Segundo os media alemães, o AfD já está a preparar uma versão do site em mais estados da Alemanha, como a Baviera, Saxónia e Berlim. A iniciativa do partido surge depois de terem surgido queixas de que alguns professores estariam a usar nas aulas t-shirts anti-AfD.
O site já recebeu cerca de mil acusações, mas está a ser atacado nas redes sociais.
Uma história negra
As acusações de várias frentes contra o site do AfD, ou Alternative für Deustchland, surgem depois de um dos seus líderes, Alexander Gauland, estar a ser comparado a Adolf Hitler depois de um texto de opinião publicado no sábado. No texto, Gauland critica a globalização e as expressões usadas, segundo os historiadores do nazismo, são muito semelhantes às usadas por Hitler, num discurso em novembro de 1933.
Nos últimos meses, o partido tem estado na frente de várias polémicas, especialmente contra a chegada de refugiados à Alemanha. No final de agosto e início de setembro, protestos organizados por movimentos da direita radical em Chemnitz provocaram vários feridos. No dia 1 de setembro, os protestos reuniram seis mil pessoas que pediam a demissão de Merkel por aceitar refugiados vindos da Síria e de outros países em conflito.
As manifestações ficaram marcadas por vários feridos, confrontos com a política e uma contra-manifestação que apoiava a política de aceitação de refugiados. Os protestos em Chemnitz, no leste da Alemanha, começaram depois do assassínio de um alemão de 35 anos, alegadamente cometido por um sírio e um iraquiano.
Algumas pessoas, de cara tapada, foram vistas a fazer a saudação nazi no protesto e a atirar pedras.