​Vera Jardim reprova críticas públicas de Costa ao governador do Banco de Portugal
23-02-2016 - 01:36
 • José Pedro Frazão

O socialista diz, no programa "Falar Claro" da Renascença, que uma guerra entre Governo e governador não é positivo. Morais Sarmento fala em “comportamento inaceitável” do primeiro-ministro.

O antigo ministro da Justiça do PS Vera Jardim confessa desagrado com as críticas dirigidas pelo primeiro-ministro, António Costa, ao governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, pela falta de soluções do banco central para os lesados do BES.

“Não gostei. Um primeiro-ministro deve dizer essas coisas ao governador em privado. Em público pode e tem o direito de criticar mas a maneira como o fez foi porventura brusca demais. Não me agradou”, afirma Vera Jardim no programa "Falar Claro" da Renascença.

O histórico socialista admite que o governador do Banco de Portugal está fragilizado “não pelo que diz o primeiro-ministro, mas pelas críticas de muita gente”. Sobre a possibilidade de António Costa querer forçar uma demissão de Carlos Costa, Vera Jardim diz que “são tudo cenários”. Ainda assim reconhece que “não é positivo que haja guerra entre o Governo e o banco central”.

Para Nuno Morais Sarmento, o comportamento de António Costa é “inaceitável”, próprio de quem “deve achar que é o dono disto tudo”, lembrando a existência de “separação de funções, funções executivas e reguladores”.

Para ilustrar a sua tese, o antigo ministro social-democrata diz que “era a mesma coisa que o governador do Banco de Portugal começar a pronunciar-se sobre a competência do ministro das Finanças sobre este Orçamento lamentável que já vai em 37 versões e 56 erratas. Não é aceitável. O primeiro-ministro critica o governador do Banco de Portugal não tendo a noção do impacto internacional?”

BdP "lento", pesado e ineficaz

Vera Jardim admite que “há uma percepção clara de que o BdP tem uma estrutura muito pesada, lenta, pouco eficaz e que a supervisão fica a perder com isso”.

No caso concreto dos chamados “lesados do BES”, Vera Jardim considera que o banco central “tem sido muito lento na participação neste processo”.

No plano das carências de estrutura, o antigo ministro socialista lembra que não atribui “nunca” as culpas a uma pessoa só por si.

“Há problemas que vêm de muito longe e até antes de Vítor Constâncio. É uma estrutura muito pesada e que não se tem mostrado à altura das suas responsabilidades, sobretudo desde 2007/2008”, insiste o antigo ministro do PS no debate politico semanal da Renascença.

Já Nuno Morais Sarmento é duro na afirmação. “O Banco de Portugal, hoje como ontem, não funciona, não regula, não intervém. Tem ‘desajudado’ o país. Agora, não vou diabolizar Carlos Costa porque coerentemente o digo desde Vitor Constâncio”, remata o social-democrata na Renascença.