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As pessoas que recuperaram da Covid-19 poderão vir a receber apenas uma dose da vacina contra o novo coronavírus. É neste sentido que aponta um estudo publicado na segunda-feira.
Liderada por Florian Krammer, virologista da Escola de Medicina Icahn, no Monte Sinai (Egito), a investigação sugere, nos seus resultados preliminares, que aqueles que já foram infetados pelo vírus tiveram uma resposta de anticorpos muito maior após a vacinação do que as pessoas que nunca tiveram Covid-19.
A notícia é avançada pelo “New York Times”, que conta a história de Shannon Romano, uma bióloga molecular no laboratório no Hospital Mount Sinai, que teve Covid-19 no final de março de 2020.
Primeiro, sentiu uma dor de cabeça incapacitante, a que se seguiu uma febre que não parava de subir. Em seguida, dores excruciantes no corpo. “Eu não conseguia dormir. Eu não conseguia mexer-me”, descreveu, acrescentando: "cada uma das minhas articulações doía por dentro."
Não era uma experiência que quisesse repetir e, por isso, quando se tornou elegível para a vacina contra a Covid-19, no início deste mês, foi tomá-la.
Dois dias após a injeção, desenvolveu sintomas que pareciam muito familiares. “Doía-me a cabeça e no corpo tinha a mesma dor de quando tive Covid”, afirmou. Os sintomas rapidamente passaram, mas a resposta intensa de seu corpo à vacina surpreendeu-a.
Outras pessoas que tiveram Covid-19 relataram reações igualmente intensas e inesperadas à primeira dose da vacina, sobretudo a dos laboratórios da Pfizer/BioNTech e da Moderna, que usam tecnologia mRNA.
É o que constata o estudo publicado online: pessoas que já tinham sido infetadas com o vírus SARS-Cov-2 relataram fadiga, dor de cabeça, calafrios, febre e dores musculares e articulares após a primeira dose da vacina – mais do que as pessoas que nunca tinham sido infetadas.
Além disso, os ex-doentes de Covid-19 apresentaram níveis muito mais altos de anticorpos após a primeira e a segunda doses da vacina.
Com base nesses resultados, os investigadores consideram que as pessoas que tiveram Covid-19 podem precisar de apenas uma dose da vacina.
“Eu acho que uma dose deve ser suficiente”, afirma Florian Krammer, virologista e autor do estudo. “Isso pouparia os indivíduos a dores desnecessárias ao receber a segunda dose e libertaria doses adicionais da vacina”, defende ainda.
É preciso investigar mais
Apesar dos vários relatos de efeitos secundários, há cientistas que preferem adotar uma postura mais cautelosa. É o caso de E. John Wherry, diretor do Instituto de Imunologia da Universidade da Pensilvânia, que gostaria de ver mais dados que demonstrem que os anticorpos produzidos pela vacina nas pessoas que já estiveram infetadas são capazes de impedir a replicação do vírus.
“Só porque um anticorpo se liga a uma parte do vírus não significa que vai proteger a pessoa de ser infetada”, defende, considerando que são necessários mais estudos antes de se alterar o protocolo de administração da vacina.
Além disso, alerta o especialista, pode ser difícil identificar as pessoas que já foram infetadas antes de lhes dar a vacina.
A existência de efeitos secundários é esperada e revela que o sistema imunitário está a montar uma resposta, ficando melhor preparado para combater uma infeção se o corpo entrar em contato com o vírus.
As vacinas da Pfizer/BioNTech e da Moderna são particularmente boas em provocar uma resposta forte. A maioria dos participantes nos ensaios das empresas relatou dor no local da injeção e mais da metade fadiga e dores de cabeça.
Os testes clínicos destas vacinas – que incluíram mais de 30.000 participantes cada – sugerem que a maioria das pessoas experimenta os piores efeitos secundários após a segunda injeção.
No estudo Moderna, as pessoas que já haviam sido infetadas pelo próprio novo coronavírus tiveram menos efeitos secundários do que aquelas que não foram.
Relatos crescentes de efeitos secundários
Os investigadores têm recebido um número crescente de relatos como o da bióloga Shannon Romano, que se sentiu mal após a primeira dose da vacina. “Descrevem esses sintomas de forma muito mais vigorosa”, reconhece o imunologista E. John Wherry, indo ao encontro do estudo liderado por Florian Krammer.
Nesse estudo, ainda não publicado em qualquer revista científica, os investigadores avaliaram os sintomas pós-vacinação em 231 pessoas, das quais 83 já haviam sido infetadas pelo SARS-Cov-2 e 148 não.
Ambos os grupos relataram amplamente sentir dor no local da injeção após a injeção. Aqueles que já tinham estado infetados antes relataram com mais frequência fadiga, dor de cabeça e calafrios.
A equipa de cientistas analisou ainda como o sistema imunitário respondeu à vacina em 109 pessoas – 68 das quais não haviam sido infetadas antes e 41 sim. Encontrou uma resposta de anticorpos mais robusta no último grupo. Os números, no entanto, são pequenos e, portanto, as conclusões do estudo precisarão de ser mais investigadas, reconhecem os cientistas.