O desastre de Génova e o euro
17-08-2018 - 06:24

Salvini aproveitou a tragédia para dar a entender que deixaria de seguir as metas de Bruxelas. Ora tal, a concretizar-se, provocará uma perigosa crise no euro, à qual Portugal não ficará alheio.

O trágico desastre da queda da ponte em Génova parece nada ter a ver com a responsabilidade de fiscalização do Estado italiano, que endossa todas as culpas para a concessionária. Recorde-se que, quando caiu a ponte de Entre-os-Rios, em 2001, se demitiu imediatamente o ministro Jorge Coelho.

O desastre de Génova é incómodo para os partidos agora no poder em Roma, para além de eventuais falhas na vigilância estatal. Primeiro, porque este não é um desastre natural, mas consequência de erro humano. Erro que ocorreu no Norte de Itália, que o líder da Liga, Salvini e verdadeiro patrão do governo, queria separar do Sul do país, considerado subdesenvolvido e corrupto (até há pouco o partido chamava-se Liga do Norte).

Depois, porque o outro partido da coligação governamental, o 5 Estrelas, apoiou recentemente aquela ponte, através de um órgão regional.

Mas há pior. Salvini aproveitou a tragédia para criticar os limites orçamentais que as regras do euro e a UE impõem a Itália, dando a entender que deixaria de seguir as metas de Bruxelas.

Ora tal, a concretizar-se, provocará uma perigosa crise no euro. Pela sua dimensão, a economia italiana não é suscetível de um resgate, como foram a Grécia, a Irlanda e Portugal. E a dívida pública italiana é muto superior à portuguesa.

Numa altura em que a moeda turca provoca prejuízos sérios em bancos europeus, sobretudo em Espanha, o ambiente nos mercados financeiros é de nervosismo. Portugal foi na quarta-feira ao mercado para obter crédito de curto prazo e pagou taxas de juro negativas – as mais baixas de sempre. É um bom sinal, mas não nos coloca ao abrigo de uma séria crise da moeda única.


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