"Lamentável". Amnistia critica impedimento de adeptos entrarem em Alvalade com 't-shirt' sobre direitos humanos
17-11-2022 - 21:11
 • João Malheiro , André Rodrigues

Diretor-executivo da AI, Pedro Neto, fala de um episódio “lamentável". Federação Portuguesa de Futebol reconhece "falha de articulação" e "excesso de zelo" por parte dos seguranças do Estádio de Alvalade.

A Amnistia Internacional denunciou esta quinta-feira vários casos de adeptos que foram impedidos de entrar no Estádio de Alvalade com t-shirts em defesa dos direitos humanos.

Em declarações à Renascença, o diretor-executivo da AI em Portugal confirma que vários adeptos denunciaram o comportamento de seguranças que impediram a entrada de pessoas que envergassem a t-shirt da ‘Equipa Esquecida’, que se assemelha ao colete fluorescente utilizado pelos trabalhadores da construção civil – no Qatar morreram 6.500 trabalhadores durante as obras para o Mundial de futebol.

“Referiram que estas situações têm de ser autorizadas pela Federação, o que eu contestei de forma absoluta. A Federação não está acima da lei e não tem de controlar o que as pessoas vestem ou o que as pessoas dizem… Não há nenhuma ação que ofendesse a Federação, os jogadores da seleção, que ofendesse a FIFA, que ofendesse a organização do Qatar”, contesta Pedro Neto.

Pedro Neto fala de um episódio “lamentável, mas é um terceiro episódio que quer limitar a liberdade de expressão, estando ligado ao futebol português”.

E lembra o caso da criança de Famalicão obrigada a despir uma camisola do Benfica, ou o episódio com a jornalista Rita Latas, da SportTV, ameaçada com um processo disciplinar por ter questionado Ruben Amorim sobre Islam Slimani na zona de entrevistas rápidas no final do encontro entre o Sporting e o Desportivo de Chaves para I Liga.

“E agora este episódio? Ficamos entristecidos e alarmados com com este tipo de episódios que se vai sucedendo e que são inadmissíveis no nosso país”, diz o diretor-executivo da AI.

“Excesso de zelo”, justifica a FPF

Pedro Neto pediu esclarecimentos à Federação Portuguesa de Futebol, entidade organizadora do Portugal-Nigéria e, na resposta, o órgão federativo admite “falha de articulação” com o pessoal da segurança.

A Renascença também pediu esclarecimentos à FPF, mas não obteve resposta. Contudo, o diretor-executivo da AI diz à Renascença que recebeu da FPF a indicação de que esta não teria sido informada da iniciativa e que atribui esta proibição a "alguns seguranças com excesso de zelo".

O Campeonato do Mundo masculino de futebol vai decorrer entre 20 de novembro e 18 de dezembro, com a seleção portuguesa apurada e inserida no grupo H, com Uruguai, Gana e Coreia do Sul. Portugal estreia-se no próximo dia 24 de novembro, frente à seleção do Gana.