Rio diz que sai com “naturalidade”, assume “erros” mas diz-se “mais maduro”
01-07-2022 - 22:42
 • Tomás Anjinho Chagas

O ainda presidente do PSD usou o último discurso para lançar farpas a Costa, desejar sorte a Montenegro, reconhecer erros e deixar recados aos que não o apoiaram durante a liderança.

Na vida há um tempo para entrar, para estar e sair”, diz Rui Rio. O ainda líder do PSD considera que sai na “altura certa” e com “naturalidade”.

Num discurso que rondou os 20 minutos e que arrancou aplausos dos delegados ao Congresso no Pavilhão Rosa Mota, Rio começou por afirmar que foi “uma honra” ser presidente e por agradecer aos militantes, “a principal força do PSD”.

Foram agradecimentos com vários tons, onde aproveitou por criticar a oposição interna. O líder cessante quis lembrar que nem sempre teve o apoio do partido em momentos mais críticos.

“Compreenderão os presentes que faça também um agradecimento especial, a todas e a todos aqueles, que, das mais diversas formas, me apoiaram neste trajeto, dividindo comigo as vitórias, mas estando também presentes nos momentos mais difíceis em que outros optaram por não o fazer”, atira Rui Rio.

Houve espaço ainda para agradeccer a António Topa e Zeca Mendonça, “dois companheiros” do PSD que morreram nos últimos anos.

Foi depois o momento para desejar “êxito” a Luís Montenegro e de avisar que liderar o PSD tem sempre precalços. Rui Rio considera que ele próprio conhece essas barreiras. “eu, melhor do que ninguém, conheço as dificuldades que hoje lhe são inerentes”, referindo-se ao líder que vai agora tomar posse.

Críticas ao governo e ao “imobilismo reformista”

Agradecimentos e recados feitos, Rui Rio atirou-se ao PS no geral, e a António Costa em particular. O presidente cessante acusa o atual governo de “conduzir Portugal para um patamar de atraso e de ineficácia” quando comparado com outros países europeus.

Para inverter este ciclo, Rui Rio diz que o país não pode continuar a agir “com falta de coragem, nem com calculismos táticos”. O líder cessante do PSD reconhece que o contexto internacional é complexo, “ruto de um conjunto de circunstâncias que ainda há relativamente pouco tempo não existiam”.

Rio elenca a guerra na Ucrânia e a resultante inflação, a pandemia e o combate às alterações climáticas. Mas acredita que “Portugal se preparou mal” para estes cenários de “adversidade”.

Em retrospetiva, o presidente cessante do PSD lembra que tentou fazer “uma profunda reforma na justiça” e que ela esbarrou no governo. “A resposta não foi sequer a discordância e o debate, foi o silêncio e a passividade”, criticando a “falta de coragem para reformar”. Defeito que classificou como “imobilismo reformista”.

Citando Francisco Sá Carneiro, Rui Rio acredita que é impossível fazer o país avançar sem “romper com o politicamente correto e arriscar em nome daqueles que nos elegeram”.

Logo depois apontou a mira a António Costa, dizendo que “estar na política de forma séria” é agir com “nobreza” e conquistar assim o eleitorado e “não contratar técnicos de marketing a peso de ouro para eles nos mandarem repetir o que o eleitor quer ouvir”, numa referência a João Cepeda, novo diretor de comunicação do governo.

Cobardia política” foi outro dos adjetivos utilizados por Rui Rio para descrever a atuação do governo.

O adeus com “naturalidade” e com “erros assumidos”

Há sempre princípio, meio e fim. É o curso natural de todas as experiências que a vida nos proporciona, à semelhança da nossa própria existência”, lembrou Rui Rio.

O líder que vai agora passar a pasta diz que é necessário “saber sair na altura certa” e que o faz “sem trair valores”, de “forma digna” e com “naturalidade”.

“Despido de vaidade, de inveja e de mentira”, é assim que diz sair Rui Rio. E ao “passar o testemunho”, o líder cessante garante que o vai fazer “com despredimento” e com “o devido respeito a quem em nós confiou”.

Olhando para trás, Rui Rio garante que procurou cumprir “o melhor possível” a missão de liderar o PSD, mas não esconde que não foi possível fazê-lo “sem cometer erros, nem evitar omissões”.

Olhando para a frente, o homem que liderou o partido nos últimos quatro anos desejou sorte ao PSD. “Espero que o PSD prossiga como sempre prosseguiu, e vença como sempre venceu”.

O auditório levantou-se das cadeiras e aplaudiu Rui Rio de pé. Ao fundo do pavilhão, os militantes observadores (que não podem votar no Congresso), estenderam uma tarja com a cara do líder cessante. Podia ler-se "obrigado".