Medina só se responsabiliza pelos transportes daqui a quatro anos
11-09-2017 - 13:41
 • Dina Soares

No debate da Renascença entre os candidatos à Câmara de Lisboa, o socialista reconheceu que o sistema de transportes da capital “funciona muito mal”. “Viver em Lisboa é insuportável”, disse Teresa Leal Coelho.

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Fernando Medina declarou “guerra aos automóveis” em Lisboa, mas não tem alternativas de transporte para os lisboetas. A acusação veio não só das candidatas da direita, Teresa Leal Coelho (PSD) e Assunção Cristas (CDS), mas também dos candidatos da esquerda, durante a discussão da mobilidade. O tema dominou o debate da Renascença sobre a corrida autárquica na capital.

O actual presidente da câmara e candidato do PS insistiu, em sua defesa, no facto de a autarquia ter estado arredada da gestão da Carris durante quatro décadas e de continuar fora da gestão do metro. “Daqui a quatro anos podem pedir-me responsabilidades”, afirmou Fernando Medina, “agora não”.

Medina reconheceu que o sistema de transportes em Lisboa “funciona muito mal” e prometeu que o próximo mandato, caso seja eleito, será marcado pela recuperação dos transportes públicos. Fez, contudo, uma ressalva: para que a mobilidade em Lisboa melhore, é essencial a articulação com os concelhos vizinhos de onde se deslocam, diariamente, 360 mil carros rumo à capital. Lembrou ainda que, a este nível, há muitos investimentos que não dependem da Câmara de Lisboa (as obras na A5 ou na linha ferroviária de Cascais, por exemplo).

A articulação entre toda a área metropolitana de Lisboa foi também defendida pelo candidato da CDU. João Ferreira considerou que a passagem da Carris para a alçada da Câmara de Lisboa não é solução, dando como exemplo o facto de a capacidade de transporte anunciada pela autarquia para 2017 ser inferior à que existia em 2011.

Pensar a mobilidade à escala metropolitana, reduzir os transbordos entre transportes e apostar nos eléctricos rápidos foram algumas propostas apresentadas pelo candidato comunista, que se manifestou absolutamente contrário à opção de construção de uma linha circular no metro. “Uma má opção que vai desguarnecer outros investimentos mais necessários”, classificou.

Da parte do CDS, Assunção Cristas insistiu na ideia de construir mais 20 estações de metro – 13 até 2025 e mais sete até 2030 – em zonas da cidade como Campolide, Amoreiras, Campo de Ourique, Ajuda, Belém e Algés.

Quanto a outras obras na cidade, Cristas garantiu que, com ela à frente da câmara, tudo será anulado, a começar pelas previstas e adiadas obras na Segunda Circular.

Teresa Leal Coelho: é “insuportável” viver em Lisboa

“Viver em Lisboa hoje é insuportável”, começou por declarar Teresa Leal Coelho. A candidata do PSD não acredita que a Câmara de Lisboa tenha condições financeiras para revitalizar a Carris. “Medina tem uma política de espoliar os cidadãos de Lisboa através da EMEL para garantir o mínimo de condições financeiras para a Carris”, atacou. “Há cada vez menos lugares, estacionar é cada vez mais caro e são aplicadas multas a toda a hora.”

A actual política de estacionamento foi, aliás, criticada por todos os candidatos, unidos na defesa de uma ideia anunciada, mas não concretizada, por Fernando Medina: a construção de parques de estacionamento grátis na periferia de Lisboa.

“Os parques dissuasores têm que ser grátis para não ficarem vazios”, defendeu Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda. Robles lembrou que a Câmara de Lisboa sempre teve lugar nas administrações da Metropolitano de Lisboa e da Carris mas nunca fez nada senão “encolher os ombros” perante as opções das duas empresas.

Fernando Medina defendeu-se com a falta de poderes da autarquia para influenciar as decisões e com a opção do anterior governo PSD/CDS de acabar com o pagamento de indemnizações compensatórias às duas empresas, o que conduziu a uma enorme redução do financiamento público e ao estrangulamento dos serviços. O actual presidente estranhou mesmo que, a certa altura, mais de metade das receitas destas empresas fossem provenientes dos bilhetes, o que não acontece em nenhuma cidade da Europa.

Teresa Leal Coelho voltou a defender a concessão das duas empresas a privados, como chegou a avançar no tempo em que o PSD e o CDS eram governo. A candidata do PAN, Inês Sousa Real, considerou que, antes mesmo de se apostar em novas estações de metro, seria importante requalificar as existentes, nomeadamente ao nível das acessibilidades. Mostrou-se também favorável ao uso de energia limpa nos transportes públicos.