Cancro. Taxa de sobrevivência pode piorar nos próximos anos, alerta especialista
17-11-2021 - 23:00
 • João Malheiro

Rastreios a doentes oncológicos ainda não retomaram a normalidade. Presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia receia que a quinta vaga da Covid-19 e a entrada no inverno prejudiquem a assistência aos doentes.

A presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia alerta que a taxa de sobrevivência do cancro "pode vir a reduzir-se nos próximos três, quatro ou cinco anos", devido aos atrasos nos rastreios a este tipo de doenças, provocados, em parte, pela pandemia da Covid-19.

"Há um diagnóstico em fases mais avançadas da doença e a possibilidade de cura reduz. Isso faz com que as probabilidades de sobrevivência também reduzam", explica Ana Raimundo, à Renascença.

Durante as últimas décadas, a incidência do cancro tem aumentado, mas a mortalidade "não aumenta na mesma proporção, porque se fazem diagnósticos mais precoces e temos tratamentos mais adequados".

"Com a pandemia e os atrasos nos diagnósticos, as curvas de sobrevivência vão piorar. Neste momento, não se fazem tantos diagnósticos de cancro. Vão ser feitos só em doença mais avançada", reitera a presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia.

Quinta vaga pode voltar a prejudicar serviços oncológicos

Ana Raimundo relembra que, a certo ponto, durante a pandemia, os rastreios oncológicos "estiveram mesmo parados", o que é "bastante grave", e ainda não se pode dizer que regressaram à "normalidade".

"Neste momento, existem rastreios, como o do cancro da mama, que estão quase reestabelecidos, mas não a 100%. Há rastreios a outras doenças oncológicas que estão longe do que era ideal", avisa.

E se os serviços de oncologia ainda estão a retomar a normalidade, há o receio de que a quinta vaga da Covid-19 possa, mais uma vez, prejudicar os rastreios.

"Há um défice de recursos de humanos e estamos a assistir a um novo aumento de casos, o que pode levar ao desvio desses recursos para um apoio aos casos Covid-19", refere a presidente da Sociedade Portuguesa de Oncologia.

"É expectável que não se note de forma tão intensa, porque os serviços estão mais organizados, mas poderão vir a sentir-se efeitos, até porque também vamos entrar no inverno e enfrentar outras doenças respiratórias", acrescenta.

Esta quinta-feira arranca o 18.º Congresso Nacional de Oncologia que se realiza até este domingo.

O evento "não quer que só haja uma discussão entre médicos e que participem outros profissionais de saúde. Importa discutir os doentes oncológicos em todas as suas vertentes", antecipa Ana Raimundo.