​Mais do mesmo
22-08-2018 - 06:30

O governo tem que dar no próximo ano alguns “rebuçados eleitorais” aos portugueses, tendo na mira uma maioria absoluta.

Será eleitoralista a proposta de Orçamento para 2019? Tudo indica que sim, a começar pelas pressões dos dois partidos de extrema-esquerda, PCP e BE, que apoiam no Parlamento o governo socialista. Mas as contas públicas do próximo ano não irão violar as metas acordadas com Bruxelas.

O ministro das Finanças, Mário Centeno, agora também presidente do Eurogrupo (conjunto dos ministros das Finanças da zona euro), não poderá permitir tal coisa. Ele, hoje (não no passado, quando não era ministro), é um defensor da ortodoxia financeira de Bruxelas. E Centeno é o principal responsável pela redução do défice orçamental português.

Como é que a coisa se resolve? Nada de novo: cortando (ou cativando) despesa do Estado. Esta austeridade disfarçada teve e terá custos. Os serviços públicos degradam-se. Os comboios e a via férrea estão a rebentar de podres – apesar da surrealista declaração do Secretário de Estado do sector, segundo a qual tudo ou quase tudo corre normalmente nos caminhos de ferro portugueses. A crise do Serviço Nacional de Saúde agrava-se. As forças militares e de segurança não conseguem ter os efetivos necessários ao cumprimento das suas missões, o investimento público é insuficiente, etc.

É uma forma de austeridade, diferente da que cortava salários e pensões, mas que não deixa de penalizar muita gente. Só que o seu efeito é politicamente mais difuso. E permite ao governo dar no próximo ano alguns “rebuçados eleitorais” aos portugueses, tendo na mira uma maioria absoluta.