As vidas que o Papa mudou
13-03-2017 - 11:43
 • com Maria João Cunha

Da primeira criança que Francisco pegou ao colo em público ao Presidente da Colômbia. Da pintora portuguesa baptizada por Francisco a Raúl Castro. Francisco foi eleito Papa há quatro anos e muitas vidas mudaram por causa dele.

São inúmeras as vidas que o Papa Francisco tocou nestes quatro anos de pontificado. Muitas não podemos conhecer, mas as públicas estão à vista do mundo inteiro. A Renascença compilou uma lista com dez pessoas ou povos que foram marcadas pelo pontificado do "Papa dos sorrisos".

JOSÉ MARIA. A primeira criança que Francisco pegou ao colo em público

Gestos como este haviam de se tornar recorrentes e fazer parte de todo o percurso do Papa. Mas, numa altura em que o mundo começava ainda a descobrir Francisco, a fotografia foi tomada como icónica – e correu mundo.

Na missa de inauguração do pontificado, a 19 de Março de 2013, o papamóvel dá a primeira volta à Praça de São Pedro com o seu novo ocupante. Pela primeira vez no pontificado, Francisco pega numa criança para a beijar. A alegria coube a José Maria, um menino de um ano, filho de pai português e mãe argentina, que a Renascença entrevistou.

JEB BUSH, ex-governador da Flórida e filho de George W. Bush, na primeira pessoa, durante a viagem do Papa aos EUA em 2015

“Milhões de católicos americanos, como eu, estão entusiasmados com o facto de o Papa Francisco estar a fazer a sua primeira viagem aos Estados Unidos. No nosso Santo Padre temos um modelo de santidade pessoal e profunda preocupação com os mais vulneráveis entre nós. Ele recorda-nos da necessidade de falarmos com os perseguidos, é defensor dos nascituros, conforta os aflitos e acolhe o estranho.

Os 'especialistas' gostariam que ele fosse político, mas a sua carga é muito maior que essa: ele é o líder espiritual para o maior grupo de cristãos na Terra e uma inspiração para todas as pessoas de boa vontade.

A Igreja que Francisco leva nunca se cansa de proclamar a dignidade de todas as pessoas - uma verdade que também está no cerne da nossa forma de Governo, que promete liberdade e justiça para todos. Está subjacente à primeira liberdade na nossa Constituição, a liberdade de religião, uma liberdade que muitos dos nossos governos perderam de vista nos últimos anos.”

OS FIÉIS PORTUGUESES, quando confirmou que viria a Fátima para o centenário das aparições

O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, levava o convite como principal ponto da agenda do encontro entre ambos, no Vaticano, em Abril de 2015. O Papa terá respondido de imediato: “Tenho a vontade de ir à celebração do centenário, assim Deus me dê saúde e vida. Depende disso”.

Foi a primeira vez que Francisco confirmou a intenção explícita de visitar Fátima e também a primeira vez que recebeu um bispo português em audiência privada.

HELENA LOBATO, a pintora portuguesa baptizada pelo Papa

A Renascença já contou a história de Helena Lobato, uma pintora de Almada que pensava não ter fé e que acabou por ser baptizada pelo Papa Francisco na basílica de São Pedro, no Vaticano.

Helena contou à Renascença que, inspirada por uma reportagem sobre Francisco, escreveu uma carta ao Papa num momento mais difícil da sua vida. Foi surpreendida por uma resposta com um desafio. A 4 de Abril, sábado santo, a pintora recebeu o sacramento do baptismo pelas mãos do próprio Francisco , a quem ofereceu um quadro pintado por si.

JUAN MANUEL SANTOS, Presidente colombiano e Prémio Nobel da Paz

O Papa recebeu no Vaticano o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos Calderón, Prémio Nobel da Paz, numa audiência que ficou marcada pelo processo de paz no país. Juan Manuel Santos manifestou a Francisco o seu “apreço” pelo contributo dado para o bom desenvolvimento das negociações entre o Governo colombiano e os guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) - um entendimento que permitiu colocar um ponto final a 52 anos de conflito armado e enveredar por uma paz que os dois responsáveis esperam que “seja estável e duradoura”.

O Papa e o Presidente da Colômbia destacaram a importância de um diálogo continuado “entre as forças políticas colombianas e as FARC” e da “Igreja Católica local continuar a oferecer o seu apoio a favor da reconciliação nacional e da educação para o perdão e para a concórdia”. Como marca desse desejo, “entre os documentos que o Papa doou ao Presidente Santos estava a mensagem para o Dia Mundial da Paz 2017”, que Francisco dedicou “ao tema da não-violência”.

D. MANUEL CLEMENTE, patriarca de Lisboa

A 14 de Fevereiro de 2015, na Basílica de São Pedro, no Vaticano, o Papa Francisco cria o cardeal o patriarca D. Manuel Clemente. Lisboa volta assim a ter um cardeal menos de um ano depois do falecimento de D. José Policarpo, que ainda participa na eleição de Bergoglio.

O bispo de Lisboa é o segundo entre 20 novos cardeais a receber os símbolos do cardinalato das mãos do Papa Francisco. D. Manuel, que a Renascença acompanhou antes e depois da cerimónia, há-de voltar o foco para Francisco.

“Temos no rosto, na figura, nas palavras do Papa Francisco, um sinal muito belo, muito convincente de como Cristo-pastor continua presente na sua Igreja", disse, na altura, o patriarca.

EDUARDO DA SILVA CAMPOS, o adolescente evangélico brasileiro que o Papa converteu

“Após um longo período de reflexão sobre minha vida e a vida da Igreja de Cristo aqui na terra, descobri a minha verdadeira Casa, minha verdadeira vocação”. Com essas palavras, o jovem carioca Eduardo da Silva Campos, 19 anos, converteu-se ao catolicismo em Dezembro de 2013.

O gesto aconteceu 135 dias após ter emocionado o mundo quando apareceu com um cartaz de acolhimento ao Papa Francisco durante a Missa de Envio da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Dizia o cartaz: “Santo Padre, sou evangélico mas eu te amo!! Ore por mim e pelo Brasil! Tu és Pedro…”

Eduardo nasceu numa família protestante e cresceu junto à Mocidade da Assembleia de Deus de sua cidade, uma das mais fortes denominações do meio evangélico. Assim como milhares de jovens, Eduardo sentiu o desejo de participar da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, em 2013. O encontro dos jovens com o Papa ajudou-o a perceber a juventude da Igreja Católica. Foi nas areias de Copacabana que experimentou o momento chave para a sua conversão junto aos mais de três milhões de participantes.

Foi também na viagem apostólica ao Brasil que Francisco teve o surpreendente gesto de beijar uma Nossa Senhora da Aparecida negra. Em 1904 a imagem tornou-se padroeira do Brasil e passa agora a ficar associada também ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima pela entronização de uma réplica da imagem original, trazida pelo arcebispo da diocese de Aparecida, o cardeal Raymundo Damasceno Assis. Foi a primeira vez que se entronizou uma imagem no santuário além da imagem de Nossa Senhora de Fátima.

RAÚL CASTRO e o povo cubano

Em Maio de 2015, o Presidente cubano Raúl Castro colocou a mão sobre o coração e confessou, na presença do Papa Francisco, que sua visita ao pontífice "foi a visita mais importante” em toda a sua vida. O líder da comunista de Cuba ficou profundamente comovido com a sua visita ao Papa, como ele próprio reconheceu diante da imprensa. Castro disse-se tocado "pela sabedoria, a modéstia e todas as virtudes" do pontífice nascido na Argentina. “Eu li todos os discursos do Papa e, se o Papa continuar a falar assim, voltarei a rezar e voltarei à Igreja, e não estou a brincar", disse Castro.

Em Setembro de 2015, Cuba perdoou 3.522 presos num gesto que autodenominou de “humanitário” e que precedeu a visita do Papa Francisco. Já depois da visita, em Novembro, a pedido do Papa o Governo de Cuba decidiu perdoar 787 prisioneiros. Os abrangidos foram seleccionados de acordo com os crimes cometidos e pelo comportamento enquanto cumpriam a pena ou aguardavam pela sentença. O perdão não abrangeu prisioneiros acusados por homicídio, violação, corrupção de menores, tráfico de drogas ou crimes similares.

As mulheres, os jovens e as pessoas com doenças terão recebido um tratamento especial. Cuba não admite ter prisioneiros políticos, mas é possível concluir, por exclusão de partes, que alguns dos perdoados neste caso terão sido encarcerados por oposição ao regime.

D. JOSÉ ORNELAS, o bispo missionário de Setúbal

A notícia chegou no Verão de 2015: o novo bispo português iria para a diocese de Setúbal. A nomeação de D. José Ornelas surgia depois de D. Gilberto Reis, anterior bispo da diocese, ter renunciado por motivos de idade. O novo bispo acabaria por revelar em carta pública que tudo aconteceu com um encontro pessoal e perante um “pedido” de Francisco que impressionaram o prelado português.

"O Papa Francisco, que tive ocasião de encontrar pessoalmente, mudou estes planos [ir em missão para África]. Quando me deu a alegria de encontrá-lo, disse-me: 'Não te imponho, mas peço-te que vás como bispo para Setúbal… mas irás como missionário… a Europa tem necessidade de redescobrir a sua dimensão missionária'. E aqui estou".

LUIS MIGUEL CINTRA, actor e encenador

O actor e encenador, para quem “o encantamento com a vida” é o “ponto de partida” para a fé, conversou com a Renascença sobre a sua reaproximação à Igreja, hoje “sem pompas”.

Sobre se a eleição do Papa Francisco coincide com o seu momento de reaproximação à Igreja, responde que a sua ligação à Igreja é prévia, mas ri-se e admite: “Foi se calhar um milagre que me fizeram lá no céu”.