Nobel da Medicina para descoberta de recetores de temperatura e tato
04-10-2021 - 10:42
 • Filipe d'Avillez com Lusa

Cientistas David Julius e Ardem Patapoutian foram premiados por terem descoberto os recetores de temperatura e de tato.

Foi anunciado esta segunda-feira de manhã o Prémio Nobel da Medicina.

O prémio foi atribuído em conjunto aos cienistas David Julius e Ardem Patapoutian, por terem descoberto os recetores de temperatura e de tato.

David Julius é americano. Nasceu em 1955 e tirou o seu doutoramento na Universidade da Califórnia, com pós-doutoramento na Universidade de Columbia. Atualmente é professor na Universidade da Califórnia.

Já Ardem Patapoutian é natural do Líbano, de uma família de ascendência arménia, mas mudou-se ainda novo para os Estados Unidos. Tirou o seu doutoramento na Califórnia Institute of Technology e fez um pós-doutoramento na Universidade da Califórnia. Atualmnte é professor e investigador na Scripps Research, também na Califórnia.

No comunicado que acompanha a nomeação, a Academia Real da Suécia explica que a importância da descoberta destes cientistas.

"A nossa capacidade de percecionar o calor, o frio e o tato é essencial para a nossa sobrevivência e está na base da nossa interação com o mundo que nos rodeia. Na dia a dia das nossas vidas damos estas sensações por adquiridas, mas como é que se iniciam estes impulsos nervosos para que se consiga percecionar a temperatura e a pressão? Esta questão foi resolvida pelos laureado deste ano com o Prémio Nobel", lê-se.

"As descobertas revolucionárias [dos dois cientistas] lançaram intensas atividades de investigação que levaram a um rápido aumento da nossa compreensão de como o nosso sistema nervoso sente o calor, o frio e os estímulos mecânicos", refere o comunicado do Comité Nobel.
"[David Julius e Ardem Patapoutian "identificaram elos críticos em falta na nossa compreensão da complexa interação entre os nossos sentidos e o ambiente", adianta o comunicado.

O cientista norte-americano recorreu à capsaicina, um composto químico e o componente ativo das pimentas que provoca uma sensação de ardor para assim identificar um sensor nas extremidades nervosas da pele que responde ao calor.

Por sua vez, o laureado libanês descobriu uma nova classe de sensores que respondem a estímulos mecânicos na pele e nos órgãos internos através de células sensíveis à pressão.

Como resultado destas descobertas, passou a ser possível compreender melhor como o calor, o frio e o toque são processados pelo sistema nervoso, sendo que os canais iónicos identificados são importantes para muitos processos fisiológicos e situações de doença. O conhecimento adquirido está já a ser utilizado no desenvolvimento de tratamentos para uma série de patologias, incluindo dor crónica.

Até às descobertas alcançadas por David Julius e Ardem Patapoutian, a compreensão do funcionamento do sistema nervoso e a interpretação do ambiente à sua volta desconhecia ainda como é que a temperatura e os estímulos mecânicos eram convertidos em impulsos elétricos no sistema nervoso.

A atribuição do prémio Nobel às descobertas relacionadas com os recetores da temperatura e do toque acabou por passar ao lado da pandemia de covid-19 e dos avanços científicos realizados ao longo do último ano e meio no desenvolvimento das vacinas.

Este é o primeiro dos Nobel a ser anunciado este ano, ao qual se segue, na terça-feira, o da Física e, na quarta-feira, o da Química. Na quinta-feira, dia 07, será atribuído o Nobel da Literatura e na sexta-feira será conhecido o nome do novo Nobel da Paz. O último anúncio será feito no dia 11 de outubro e determinará o vencedor do Nobel da Economia.

Os prémios Nobel nasceram da vontade do cientista e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em legar grande parte da sua fortuna a pessoas que trabalhem por "um mundo melhor". O prestígio internacional dos prémios Nobel deve-se, em grande parte, às quantias atribuídas, que atualmente chegam aos dez milhões de coroas suecas (mais de 953.000 euros).