O futuro chegou mais cedo
05-04-2020 - 16:44
 • José Bastos

Ana Sofia Carvalho, Nuno Botelho e Carvalho da Silva analisam a crise provocada pela pandemia.

Até agora a ameaça de uma nova recessão mundial poderia vir, entre outras razões, da reacção nacionalista aos tratados globais de comércio. Em economia, como na vida, os verdadeiros factores de novidade são por natureza imprevisíveis. O previsível já está avaliado e descontado pelos mercados e o que verdadeiramente altera a economia é o imprevisível, passe a tautologia.

Assim, todas as previsões económicas caíram ao chegar o único fator que não estava descontado: o novo coronavírus. O imprevisível. Ou, quanto muito, matéria de previsão científica reservada para um futuro longínquo. Desta vez, o futuro chegou mais cedo. Está aqui. Já é presente.

Quais são as regras dos manuais económicos a seguir com o mundo de pés para o ar devido à pandemia da Covid-19? Reabrir a economia cedo de mais pode levar a mortes em massa, mas manter o tecido produtivo encerrado durante muitos meses pode produzir um enorme sofrimento social?

Nos últimos dias uma versão, ou versões, destas questões tem sido colocada a centenas de economistas, cientistas sociais, médicos, especialistas em bioética empresários, professores, etc, numa interminável lista de atores sociais. A resposta prevalecente é a de que salvar vidas ou salvar a economia é uma falsa questão.

A dúvida nem sequer existiu em 1918 – uma pandemia é tão disruptiva que tudo o que for feito para salvar vidas vai suavizar esse impacto destrutivo da pandemia e será, no médio-longo prazo, positivo para a economia.

Sem populações saudáveis não há economias saudáveis, mas, se depois de uma normal recessão se deve dar um impulso à procura, desta vez, e de imediato, não se pode ter, de novo, os aviões lotados, ou restaurantes a abarrotar só para dar dois exemplos.

Todas as questões económicas, sociais e éticas à volta da pandemia vão estar em debate com Ana Sofia Carvalho, especialista em bioética e docente da Universidade Católica, Nuno Botelho, empresário e presidente da ACPorto e Manuel Carvalho da Silva, sociólogo e professor da Universidade de Coimbra.