Morreu D. Manuel Vieira Pinto, arcebispo emérito de Nampula
30-04-2020 - 21:24
 • Renascença

Por assumir posições antifascistas, foi perseguido pela PIDE e forçado a exilar-se. Arcebispo de Nampula até 2000, D. Manuel Vieira Pinto morreu esta quinta-feira, aos 96 anos.

D. Manuel Vieira Pinto, arcebispo de Nampula entre 1967 e 2000, morreu esta quinta-feira. Tinha 96 anos. O bispo do Porto preside às exéquias esta sexta-feira, às 12h00, na Igreja de Cedofeita.

Nascido em 9 de dezembro de 1923, no lugar de Sanguinhedo, na freguesia de Aboim, concelho de Amarante, D. Manuel da Silva Vieira Pinto foi ordenado padre na Sé Catedral do Porto em 7 de agosto de 1949, após completar os estudos no seminário da Diocese do Porto.

Reconhecido pela postura antifascista que assumiu durante o Estado Novo, chegou a ser convidado a integrar o Conselho de Estado pelo general António Spínola nos primeiros dias após o 25 de abril de 1974, convite que recusou.

Antes disso, chegou a ser detido pela polícia política (PIDE) e foi forçado ao exílio pelo Governo de Salazar em 1958, depois das eleições presidenciais a que se candidatou o general Humberto Delgado.

Nessa altura, o bispo do Porto enviou o padre Manuel Vieira Pinto para Roma, a fim de estudar o movimento «Por um mundo melhor», dirigido pelo padre Ricardo Lombardi. Mais tarde, seria D. Manuel Vieira Pinto a introduzir este movimento de cristãos em Portugal.

Em 1975, oito anos depois de se ter tornado arcebispo de Nampula, foi eleito presidente da Conferência Episcopal de Moçambique (CEM). Ali, trabalhou ativamente para ajudar a alcançar o fim da guerra entre a Frelimo e a Renamo, cujas atrocidades denunciou publicamente.

"Ainda que discretamente", é recordado na página de Facebook "Antifascistas da Resistência", desempenhou "um importante papel no processo de mediação e das negociações para a paz em Moçambique".

Em 1992, foi homenageado pelo então Presidente da República portuguesa, Mário Soares, com a Ordem da Liberdade. D. Manuel Vieira Pinto abdicou do cargo de arcebispo de Nampula em 2000, altura em que se retirou da vida pública.

À Renascença, o bispo do Porto, D. Manuel Linda, recorda D. Manuel Vieira Pinto como uma “persona non grata do regime” fascista português, devido a ser contra, por exemplo, a Guerra Colonial.

“A verdade é que ele já é um bispo e um sacerdote de outra altura que não a minha. De qualquer maneira, já no meu tempo de estudante eu ouvia falar com frequência de D. Manuel Vieira Pinto, que, como bispo de Nampula, foi o homem defensor dos direitos dos ignígenas de Moçambique e condenador, desde o primeiro momento, do colonialismo e da Guerra Colonial. O que fez dele uma persona non grata para o regime do Estado Novo. Mas será recordado como um dos grandes do Estado moçambicano", lembra o bispo do Porto.