Reabertura das creches é "absolutamente necessária" para combater as desigualdades
11-05-2020 - 10:30
 • Inês Braga Sampaio , Miguel Coelho (moderação do debate)

Henrique Raposo e Jacinto Lucas Pires comentam os termos para reabertura das creches e o possível efeito do confinamento na frequência da ocorrência de casos como o da menina de Peniche.

Henrique Raposo considera "absolutamente necessário" que as creches abram, apesar das críticas que têm sido tecidas à forma como o Governo está a gerir o processo.

"Temos de ter noção da profunda assimetria social e económica que a quarentena impôs às pessoas. As petições que apareceram na internet que querem impedir a abertura das creches são provavelmente de pessoas com um nível de vida privilegiado.Podem estar em casa, até podem abdicar de trabalhar para ficar com os filhos. Mas a esmagadora maioria dos portugueses não pode fazer isso e precisa de colocar os seus filhos na creche para ir trabalhar", assinala o comentador, no programa As Três da Manhã, da Renascença.

Jacinto Lucas Pires aponta, no entanto, que os termos de reabertura das creches, nomeadamente o "conflito entre as regras sanitárias e pedagógicas", também acentuam as desigualdades sociais. O comentador salienta que, se o atual quadro lesa o desenvolvimento das crianças como os educadores de infância alegam, as creches "obviamente não podem abrir nesses termos":

"As pessoas com melhores condições económicas não vão pôr os filhos nas creches nestes termos e isso vai aumentar, para o futuro, a desigualdade, que é tudo o que não se quer. Temos de aproveitar este abalo da pandemia para também transformar a sociedade para o melhor pós-pandemia."

Os dois comentadores também abordaram o caso da menina de nove anos de Peniche, que foi encontrada morta no domingo. O pai e a madrasta estão "fortemente indiciados por homicídio". Poderá o confinamento obrigatório ter influência? Embora seja "crítico muito forte desta quarentena draconiana", Henrique Raposo diz que não.

"Estes casos ocorrem durante a normalidade, são sistemáticos. Acontecem mais do que, às vezes, os media dão a entender", destaca.

Ainda assim, sublinha que "as comissões que alertam para o abuso sobre mulheres e sobre crianças têm sido muito sonoras desde o início, não têm é sido destacadas pela narrativa".

Uma posição sustentada por Jacinto Lucas Pires, que salienta que "os casos de instabilidade psicológica estão a aumentar".

"A incerteza de quanto tempo é que isto vai demorar, o horizonte que parece ter desaparecido e também fatores da crise económica que já está aí e ainda vai ser pior, são condições de pressão muito forte sobre as famílias. As pessoas não são uma mera soma de circunstâncias, mas o quadro é muito duro e algumas pessoas precisarão de ajuda e é preciso que as instituições estejam especialmente atentas", alerta.