​“Inqualificável” acto de vandalismo em figura rupestre do Côa
28-04-2017 - 17:49
 • Olímpia Mairos

Rocha do parque arqueológico do Vale do Côa, na qual está representada uma figura humana com mais de 10 mil anos, foi vandalizada. Fundação Côa Parque vai agir judicialmente.

A Fundação Côa Parque vai participar criminalmente junto do Ministério Público contra o “inqualificável atentado de lesa-arqueologia e lesa-Património Mundial que a rocha 2 da Ribeira de Piscos acaba de sofrer”.

“Fomos ontem [quinta-feira] surpreendidos com a descoberta de novíssimas gravações de uma bicicleta, um humano esquemático e a palavra BIK apostas directamente sobre o conhecidíssimo conjunto de sobreposições incisas do sector esquerdo daquele painel, onde, como é universalmente sabido, está o famoso ‘homem de Piscos’, a mais notável das representações antropomórficas paleolíticas identificadas no Vale do Côa”, revela o director do Parque Arqueológico da Vale do Côa, António Baptista.

Segundo o arqueólogo, trata-se de “um conjunto de gravuras que sobreviveram intactas mais de 10 mil anos e que agora foram miseravelmente mutiladas pela ignorância de alguém que, esperamos, possa ser rapidamente identificado e exemplarmente punido”.

António Baptista afirma que “este atentado mancha a região [classificada como Património Mundial desde 1998] e é uma nódoa no certificado de qualidade, de conservação e de apresentação ao público que a Arte do Côa orgulhosamente ostenta e é por (quase) todos reconhecido”.Em nota enviada à agência Lusa, os trabalhadores da Fundação Côa Parque afirmam que, durante a vigência do anterior Governo, o sítio arqueológico em causa deixou de ter qualquer tipo de vigilância.

"O acto terá ocorrido entre domingo, quando a rocha foi observada incólume pela última vez, e quinta-feira, quando o seu resultado foi detetado", referiu a Comissão de Trabalhadores do Museu e do Parque Arqueológico do Vale do Côa.

Os trabalhadores garantem que desde a primeira hora e até à última vez que se reuniram com o Ministro da Cultura têm vindo a alertar para o perigo desta situação e para as possibilidades de vir a ocorrer o que agora aconteceu.

"Esta falta de vigilância nunca foi claramente denunciada publicamente por receio que a publicitação da ausência de vigilância nos sítios, pudesse ela própria potenciar a ocorrência destes atos", esclarecem.