​Direitos humanos na gaveta
13-06-2018 - 06:37

Os direitos humanos estiveram ausentes do encontro de Singapura. E também do Mediterrâneo, onde a desumanidade de Salvini foi chocante.

O acordo Trump-Kim foi positivo. Basta pensar no que aconteceria se Trump tivesse abandonado o encontro: voltaria o clima de pré-guerra e de insultos violentos que predominou até há bem poucas semanas.

Claro que o dito acordo é sobretudo uma mera declaração de intenções. O avô e o pai de Kim Jong-un celebraram acordos com os EUA (mas não falaram com o Presidente americano) e depois a Coreia do Norte não cumpriu os compromissos assumidos. Por isso Trump mantém as sanções e irá eliminá-las à medida em que a Coreia do Norte seja “desnuclearizada”. Só que a verificação dessa desnuclearização ainda não foi negociada.

Entretanto, Trump concedeu suspender as manobras militares conjuntas dos EUA e da Coreia do Sul. E Kim prometeu desmantelar uma instalação para testar mísseis de longo alcance (isto é, capazes de atingir os EUA). Também aqui falta saber como será vigiado o cumprimento dessa promessa.

Do acordo também decorre que o os EUA nada farão para democratizar a brutal ditadura de Kim, onde não faltam milhares de crimes contra a humanidade. Trump não se interessa por direitos humanos – deve achar que se trata de um assunto indigno de um grande líder, como o próprio se considera.

Desgraçadamente, a Europa comunitária, que gosta de proclamar o seu humanismo, também parece ter metido os direitos humanos na gaveta. É, pelo menos, o que ressalta do escândalo da recusa italiana de deixar desembarcar um barco com mais de 600 refugiados. Salvini, o líder da extrema-direita que manda no novo governo de Itália, considerou “uma vitória” este gesto desumano e contrário ao direito internacional. Os outros países da UE que recusam receber refugiados (Hungria, Polónia, Eslováquia, República Checa, Áustria…) bateram certamente palmas. Marine Le Pen aplaudiu Salvini.

Valeu a iniciativa do novo governo espanhol de acolher aqueles desgraçados. Um gesto feliz de Pedro Sanchez. Mas que não chega para que a UE faça respeitar valores que são inerentes ao ideal europeu.