Os custos de negar o óbvio
15-09-2020 - 06:36

A opinião pública americana não é tradicionalmente sensível a questões de ambiente. Mas as coisas estão a mudar, sobretudo com os pavorosos incêndios na Costa Leste dos EUA. É possível que o negacionismo de Trump em matéria de alterações climáticas acabe por o prejudicar nas próximas eleições.

Infelizmente, o flagelo dos fogos florestais voltou em força a atingir Portugal. Mas, pelo menos, não se ouvem por cá vozes, com um mínimo de relevância e credibilidade, a negar as alterações climáticas.

A Austrália sofreu, de novo este ano, incêndios terríveis. Um grupo de associações empresariais australianas de vários sectores apelou há dias ao governo federal do país para que leve mais a sério as alterações do clima e tome urgentes medidas para reduzir as emissões de carbono.

Na Amazónia os fogos continuam a dizimar a floresta, enquanto o presidente Bolsonaro favorece sistematicamente empresas que ali querem cortar árvores para implantar indústrias; o que torna num inferno a vida de numerosos indígenas que ali vivem há muitos séculos.

Uma das consequências das mudanças climáticas é o degelo à volta dos polos Norte e Sul, o que faz subir o nível do mar. Nas Ilhas Figi já se regista um abandono maciço de habitantes que residiam perto da costa e agora fogem para zonas mais afastadas do mar.

Na costa Oeste dos EUA multiplicam-se enormes incêndios, afectando desde Seattle, a Norte, até Los Angeles, a Sul. Um fumo denso cobre todo esse território de cerca de 2 mil quilómetros. São queimadas zonas que nunca antes haviam sido afectadas por incêndios. Pelo menos 35 pessoas morreram ali pelo fogo desde o início de agosto, mas há numerosos desaparecidos.

Trump, que ontem visitou a Califórnia, continua a não acreditar nas mudanças climáticas e no papel negativo das emissões de carbono, apesar de um largo consenso sobre o assunto no meio científico. O presidente considera um mito, uma patranha, o aquecimento global e diz que os incêndios resultam de uma deficiente gestão da floresta. E continua a desvalorizar as energias renováveis e a defender os combustíveis fósseis, incluindo o carvão. Aliás, o contributo de Trump para o ambiente tem sido... eliminar restrições ambientais, o que satisfaz alguns investidores pouco escrupulosos.

Como sempre, as posições de Trump são tomadas por cálculos eleitorais. Parecia fazer sentido: a opinião pública americana não é tradicionalmente sensível a questões de ambiente. Mas as coisas estão a mudar, sobretudo com os pavorosos incêndios na Costa Leste dos EUA. É possível que o negacionismo de Trump em matéria de alterações climáticas acabe por o desfavorecer nas eleições de 3 de novembro próximo.

P.S.: esta coluna vai para férias, devendo regressar no início de outubro