“A redenção não começa em Jerusalém, Atenas ou Roma, mas no deserto”, diz o Papa
05-12-2021 - 15:13
 • Filipe d'Avillez , Cristina Nascimento

À pequena comunidade católica da Grécia Francisco recorda precisamente que “o Senhor prefere a pequenez e a humildade” aos palácios dos poderosos.

O Papa Francisco recordou aos católicos da Grécia, esta tarde em Atenas, o paradoxo de Deus ter escolhido revelar-se aos pequenos e pobres, em vez dos grandes e poderosos, e no deserto, não nos palácios.

Na homilia da missa que celebrou em Atenas, para a pequena comunidade católica da Grécia, Francisco comentou o Evangelho deste domingo que fala do chamamento de João Baptista para começar a anunciar a vinda de Jesus, nomeadamente o facto de esse ministério se ter desenvolvido no deserto.

“Das linhas do Evangelho emerge uma subtil ironia: dos nobres palácios onde moram os detentores do poder, passa-se inesperadamente para o deserto, para um homem desconhecido e solitário. Deus surpreende-nos, as suas opções surpreendem: não entram nas previsões humanas, não seguem o poder e a grandeza que o homem habitualmente Lhe associa. O Senhor prefere a pequenez e a humildade.”

A redenção não começa em Jerusalém, Atenas ou Roma, mas no deserto. Esta estratégia paradoxal oferece-nos uma mensagem muito bela: ter autoridade, ser cultos e famosos não constituem garantias para agradar a Deus; antes pelo contrário, poderia induzir-nos ao orgulho e a rejeitá-Lo. Em vez disso, ajuda ser pobres intimamente, como pobre é o deserto”, disse Francisco.

Este deserto, explica o Papa, é algo intemporal e mais do que um lugar físico é sobretudo um estado, que pode tocar a todos. “Na vida de uma pessoa ou de um povo, não faltam momentos em que se tem a impressão de encontrar-se no deserto. E é precisamente aí que Se faz presente o Senhor, que muitas vezes não é acolhido por quem se sente bem-sucedido, mas pela pessoa que se sente incapaz de vencer. E vem com palavras de proximidade, compaixão e ternura.”

À comunidade católica, que não ultrapassa os 200 mil num país de esmagadora maioria ortodoxa, Francisco dirigiu palavras de encorajamento. “Não temais a pequenez, porque a questão não é ser pequenos e poucos, mas abrir-se a Deus e aos outros. E não temais sequer a aridez, pois não a teme Deus que nela nos vem visitar.”

Conversão é desistir da mediocridade

Neste que foi o seu último ato público deste domingo, em que o Papa também visitou, de manhã, a ilha de Lesbos para se encontrar com refugiados, Francisco terminou a sua homilia com um apelo à conversão.

“Converter-se significa não dar ouvidos ao que enterra a esperança, a quem repete que nada mudará jamais na vida; é recusar-se a acreditar que estamos destinados a afundar nas areias movediças da mediocridade; é não ceder aos fantasmas interiores, que surgem sobretudo nos momentos de provação para nos desanimar, dizendo que não vamos conseguir, que tudo está errado e que tornar-se santo não é para nós.”

“Não é assim, porque há Deus. É preciso confiar n’Ele, porque é Deus o nosso além, a nossa força. Tudo muda, se se deixar a Ele o primeiro lugar. Eis a conversão: ao Senhor, basta a nossa porta aberta para entrar e fazer maravilhas, assim como Lhe bastaram um deserto e as palavras de João para vir ao mundo”, concluiu Francisco.

Esta tarde o Papa recebe ainda em audiência o arcebispo de Atenas, Jerónimo II, líder da Igreja Ortodoxa da Grécia. O programa do Papa continua na segunda-feira com um encontro com os jovens da Grécia, antes de regressar a Roma.