​“Então e os Panama Papers?”
19-09-2016 - 06:30

O eventual futuro do jornalismo está no trabalho rigoroso e sério e não na força com que se puxam galões puídos.

O director do semanário 'Expresso' escreveu este fim-de-semana um texto com este título onde – passados uns redondos quatro meses sobre as primeiras manchetes – apresenta uma espécie de defesa pública da honra da casa.

A tal defesa organiza-se em torno de propostas simples. A primeira é de que a documentação está toda disponível para quem a quiser trabalhar desde 9 de Maio (Pedro Santos Guerreiro até nos deixa o link)., a segunda é de que a investigação é muito complexa e está em curso e a terceira é de que o 'Expresso' é um jornal sério, envolvido numa série de outras investigações jornalísticas muito sérias, e que isso não deveria merecer dúvidas (são várias as vezes em que o autor se questiona até sobre a validade deste seu exercício).

Valerá a pena ler este texto e tentar perceber o seu enquadramento no atual momento do jornalismo nacional. Duas reflexões parecem-me, desde logo, pertinentes.

Há, por um lado, uma clara sensação de que o jornal se sente ferido na sua honorabilidade e acossado por uma torrente de acusações que entende serem falsas. É cada vez mais recorrente, não apenas no jornalismo nacional, esta ideia de afastamento entre a percepção que os jornalistas mostram ter do seu trabalho e a percepção dos leitores (cada vez mais críticos e com cada vez mais meios para se fazer notar). É uma distância que não deverá vir a desaparecer, sobretudo se os argumentos usados pelos jornalistas forem deste calibre: ‘Se não estamos a fazer bem, aí fica o link – façam vocês se conseguirem’, ou então, ‘Nós somos o jornal X, uma instituição – como é possível que se questione a nossa forma de trabalhar?’ Ambas emanam de uma concepção do exercício da profissão gasta e até perigosa. O eventual futuro do jornalismo está no trabalho rigoroso e sério e não na força com que se puxam galões puídos (parte substancial da audiência não tem sequer tempo ou paciência para aturar tais disparates).

Há, por outro lado, espalhados no texto, sinais de uma enorme fragilidade. Os Panama Papers não foram, em todo este tempo, trabalhados no necessário detalhe e urgência pelo jornalismo nacional (seja pelo' Expresso' ou por outra empresa) porque, simplesmente, não há meios suficientes para o fazer. Admitir isso, logo à cabeça, teria sido preferível às deambulações por teorias conspiratórias sobre críticas anónimas em blogues e redes sociais orquestradas por figuras tenebrosas (que, naturalmente, não são nomeadas).

Pedro Santos Guerreiro desperdiçou uma oportunidade para estreitar a relação de confiança com a sua audiência específica. À pergunta “Então e os Panama Papers?” deveria ter respondido, há muito, com humildade e respeito: “pedimos desculpa; exagerámos na promoção do que tínhamos capacidade para fazer (demos entrevistas a mais e fomos a programas nas TVs a mais); estamos a trabalhar; vamos dar conta do que estamos a fazer de forma periódica; já pedimos ajuda especializada mas estamos abertos a outras colaborações; quem nos quer ajudar?”