A Mind Sports Olympiad é o ginásio dos músculos da cabeça
22-08-2016 - 18:52

Todos os anos há Mind Sports Olympiad em Londres. Nestas olímpiadas da mente, interessa a diversão e o raciocínio estratégico. Este ano, conta com presença portuguesa, o jogo Trench.

Se o físico é deixado para os Jogos Olímpicos, a mente ocupa o trono da Mind Sports Olympiad, que todos os anos acontece em Londres. Aqui, quem manda são os jogos de tabuleiro e quem os pratica.

“O propósito da Mind Sports Olympiad é que as pessoas se divirtam, jogando e celebrando o raciocínio estratégico”, explica Etan Ilfeld, director do evento, que começou no domingo e termina a 29 de Agosto, em Londres.

Ilfeld, israelita que vive em Londres, é um mestre do xadrez, produtor de cinema, autor e criador do xadrez em mergulho. Uma mente que impõe respeito, portanto.

A Mind Sports Olympiad começou em 1997, como festival e campeonato mundial que celebra todos os jogos de tabuleiros. Agora, envolve muito para além disso, com questionários de conhecimento geral, um torneio de sudoku e palavras-cruzadas.

“Até temos uma competição de xadrez em mergulho, em que o xadrez é jogado debaixo de água e cada jogador pode pensar na sua próxima jogada apenas durante tanto tempo quanto aguentem imersos, a conter a respiração”, acrescenta Ilfeld. "Temos também uma competição de Tetris, que se joga numa Nintendo Wii em modo batalha”.

Os prémios são as tradicionais medalhas. “Cada evento tem medalhas de ouro, prata e bronze para adultos e juniores. Muitos dos eventos também têm prémios em dinheiro”, refere. “Este é o nosso 20.º ano consecutivo e estamos cada vez mais fortes. Planeamos organizar um evento todos os anos."

Uma edição bem portuguesa

Este ano, a grande novidade atrairá os portugueses: "Trench" (trincheira), jogo criado por Rui Alípio Monteiro, “é mais que um jogo”, explica Maria Luísa Monteiro, mulher e assessora do criador.

Uma equipa de oito jogadores portugueses acompanhará Rui Alípio Monteiro a Londres e disputará, com outros atletas estrangeiros, a medalha de ouro do "Trench".

“No ano passado, o 'Trench' chegou à organização da Mind Sports Olympiad através de um jogador português, que concorreu às Olimpíadas de diversos jogos de tabuleiro. Ele é um apaixonado pelo 'Trench' e levou-o na bagagem, e apresentou-o à organização”, conta Maria Luísa.

“Foram jogando durante as Olimpíadas nas horas mortas, o jogo foi muito bem recebido e a organização gostou imenso do jogo, da sua jogabilidade e mecânica, de tal maneira que, no último dia, foi jogado pelo presidente da MSO”, garante. “Ele fez o convite para, este ano, estarmos presentes nas Olimpíadas nos jogos de tabuleiro com o 'Trench', porque considerou que era uma mais-valia e o jogo tinha muito a oferecer em termos de desafio e estratégia”.

Maria Luísa Monteiro explica que, para o casal, “é muito importante” estar presente na Mind Sports Olympiad. “Estas Olimpíadas são o maior e mais prestigiante evento dos jogos de tabuleiro. Estarmos presentes num evento a nível internacional em que estão todos os grandes mestres, de xadrez e outros jogos clássicos e modernos, e onde estão os grandes jogadores, é uma maneira de darmos a conhecer o 'Trench' a todo o mundo”, frisa.

Chegar a todos os cantos do mundo

O grande objectivo do casal é divulgação. “O 'Trench' chegar a mais pessoas, a mais público e a outras partes do mundo. Provar que o 'Trench' é um jogo de estratégia bem conseguido, a que a crítica do mundo deu a sua chancela como um jogo extraordinário de estratégia."

“Um dos próximos objectivos é a versão digital do 'Trench', para massificar, e queremos fazer contactos importantes. Alguns mestres que vão estar presentes na MSO estão ligados à inteligência artificial e ao mundo dos jogos, portanto são contactos importantes”, analisa a assessora.

Os contactos são ainda mais importantes quando se tem em conta a parca experiência dos criadores do Trench. “Quando o Rui criou o 'Trench', foi uma inspiração, ele quis criar um jogo que fosse, além de um jogo, uma marca e um conceito e que tivesse matemática. Como nós não éramos do mundo dos jogos, isto tem sido uma aprendizagem”, salienta Maria Luísa.

Diz que o "Trench" terá de ser reconhecido no estrangeiro para ser conhecido em Portugal. "Com os portugueses funciona muito assim, se calhar é um defeito nosso ou feitio, mas os portugueses desconfiam dos nossos produtos e estamos sempre à espera que sejam reconhecidos lá fora, para nós depois virmos atrás e aplaudirmos”, comenta Maria Luísa.

“O Trench continua ainda a não ser conhecido por um grande número de pessoas. É uma criação de um português, num país em que não há vocação para os jogos de tabuleiro, e é uma criação independente. Tem sido um trabalho feito por um casal, que, com parcos recursos, tem desenvolvido o projecto e feito alguma divulgação, mas sempre dentro das nossas limitações”, justifica.

“O extraordinário é que, mesmo com todos esses condicionalismos, o 'Trench' já está praticamente a ser conhecido em todo o mundo e quem coloca os seus olhos no 'Trench' fica deveras impressionado, como ficou a organização das Olimpíadas, porque vê que está ali um grande jogo de estratégia. Alguns xadrezistas até o consideraram o xadrez do século XXI”, partilha Maria Luísa.

Etan Ilfeld, presidente da Mind Sports Olympiad, elogia o "Trench", um "grande jogo de estratégia". "No ano passado, os nossos jogadores experimentaram jogar pela diversão e gostaram, pelo que estou ansioso por ver como corre um torneio de 'Trench' a sério”, projecta aquele que é um dos grandes mestres do xadrez actual.