Carlos Moedas. “Rui Rio é um líder com provas dadas"
08-11-2018 - 00:06
 • Graça Franco (Renascença) e Ana Sá Lopes (Público)

Em entrevista à “Hora da Verdade”, da Renascença e do Público, o comissário português defende a união do partido e diz que é preciso dar tempo ao líder. Critica o “ruído” sobre potenciais sucessores “que é negativo para a política”.

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Como é que viu a eleição de Bolsonaro no Brasil?

Vi com grande tristeza porque gosto muito do Brasil, tenho lá muitos amigos. Vi com muita preocupação chegar ao nível de um político dizer aquilo que Bolsonaro diz que eu nem consigo repetir porque me sentiria mal. Aquelas frases terríveis, racistas, que chocam qualquer pessoa. Eu vivi isso por dentro, que coisa terrível aquela linguagem.

Na Europa está a constituir-se o "The Movement", uma plataforma digital para criar uma estratégia vencedora de todos os partidos populistas e de extrema-direita na Europa nas próximas eleições europeias. O objetivo é conquistar 1/3 do Parlamento. O que se vai fazer para impedir isto?

Eu estou preocupado com o populismo e extremismo europeu, mas não estou preocupado com a capacidade de um Steve Bannon importar aquilo que é o populismo americano. Acho que não vai funcionar. Os populistas europeus são diferentes dos populistas americanos. Os populistas são perigosos no contexto das próximas eleições europeias mas não se vão organizar à volta de um movimento americano criado por um tal Steve Bannon. Vão-se organizar exatamente como o estão a fazer neste momento, dizendo "nós temos que destruir o sistema, ajudem-nos a destruir o sistema". E é muito triste viver na Europa e ir ao Parlamento Europeu e ver pessoas cuja única função é destruir o sistema. Ou seja, ganham um salário ao fim do mês para destruir o sistema! E as pessoas votam neles! Esses deputados não fazem relatórios, não fazem trabalho parlamentar, simplesmente estão ali para destruir o sistema.

Acha impossível que os extremistas venham a ser um quinto do Parlamento Europeu?

Não sei, é tão difícil prever... Eu espero bem que não e vou fazer tudo que estiver ao meu alcance...

Para dar uma ajuda aos partidos do centro seria capaz de aceitar ser cabeça de lista do PSD ao Parlamento Europeu se Rui Rio lhe pedisse?

Responder a estas perguntas quando não fomos convidados é sempre terrível. Aquilo que lhe posso dizer é que não está nos meus planos ser deputado europeu, acho que fiz o meu trabalho como comissário, gostei imenso, mas não está nos meus planos de vida ser agora deputado europeu. Eventualmente, um dia mais tarde. Os meus planos estão em voltar para Portugal, também por razões pessoais.

E quando é que vai ser candidato a líder do PSD que é uma coisa que toda a gente está à espera, a começar pelo Presidente da República?

Não, isso não. O PSD tem um líder com provas dadas...

E quais são as provas dadas?

Foi um grande presidente da Câmara do Porto.

E em termos de liderança do PSD?

Acho que temos que dar oportunidade ao líder e temos que nos unir em volta do líder. Como militante do PSD, não gosto de ver tudo aquilo que se passa à volta, aquilo de pensar em quem vão ser os próximos líderes. Isso não interessa agora. Há um líder do PSD, que tem provas dadas como homem, é um homem honesto, com capacidade. Tempos que nos unir à volta dele. O que eu tenho feito até agora é essa união. E não gosto deste ruído, é negativo para a política.

Em maio ofereceu-lhe ajuda no que fosse preciso, nomeadamente a mudar a maneira de fazer política. Ele já lhe pediu essa ajuda?

Falamos. É verdade que ele tem os seus afazeres. Mas falamos sobre a Europa, sobre o futuro. Estou sempre disposto a ajudar o presidente do partido.

Mas sobre a liderança do PSD disse numa entrevista a Henrique Monteiro na Renascença "Sei lá o que vou fazer o futuro". Portanto, não sabe o que fará no futuro...

Não. Sempre me enganei. Sempre que pensei no que ia fazer no futuro depois fiz algo de muito diferente. Se me perguntar se vou fazer no futuro política, sim. Gosto de política, gosto de contribuir quando vejo que posso contribuir. Gosto de contribuir na política internacional, mas também na política interna. Agora, contribuir na política quando o tempo é para contribuir. Neste momento, estou a contribuir como comissário europeu.

Gostava de continuar a ser comissário?

Essa é uma decisão do primeiro-ministro.

Se ele lhe pedisse, ficava?

Teria que fazer sentido para Portugal. Acho que não é a questão de ser comissário europeu, é qual é a função, o que é esse futuro e saber se eu seria a melhor pessoa para representar Portugal.