Projetos de sustentabilidade. Boas práticas vão ser valorizadas pelas artes visuais
17-02-2020 - 09:52
 • Rosário Silva

Os artistas da fotografia e do vídeo são desafiados a lançar o seu olhar criativo sobre seis projetos em curso, três dos quais no Alentejo, na área da sustentabilidade. Programa “Sustentar” da Ci.CLO tem candidaturas abertas até 23 de fevereiro.

São seis bolsas, para seis projetos, de seis territórios. Este 6+6+6, traduz-se no programa “Sustentar” que quer conceder bolsas de criação artística, numa iniciativa da Ci.CLO, uma estrutura independente de pesquisa e criação, na área da fotografia.

“No âmbito da nossa missão, queremos mapear e documentar iniciativas que vários municípios estão a implementar em resposta às atuais vulnerabilidades económicas e sociais na área da sustentabilidade, nas suas várias dimensões ecológica, social e económica”, explica à Renascença, Virgílio Ferreira, diretor artístico da plataforma e da Bienal Fotografia do Porto.

A finalidade do programa passa, então, por valorizar, com o contributo das artes visuais, iniciativas experimentais relacionadas com práticas de sustentabilidade que estão a ser implementadas em Portugal.

“Somos uma estrutura de criação, de formação e ação na área da fotografia, mas queremos expandir as nossas relações com outras estruturas como os municípios ou outras entidades, sobre assuntos que tenham a ver com questões ligadas a uma consciência ecológica e social, transversal a todos os nossos projetos e que tenham essa aplicabilidade prática”, assegura o coordenador do programa “Sustentar”.

Com esse intento foi desenvolvida uma parceria com as câmaras municipais de, Évora, Mértola, Loulé, Setúbal e Figueira da Foz, e com a EDIA, a empresa que gere o Alqueva, todas com projetos no terreno na área da sustentabilidade social e/ou ambiental.

Assim, até 23 de fevereiro, podem candidatar-se artistas nacionais e estrangeiros, residentes em Portugal, que usem a fotografia ou vídeo como meio de expressão.

Os seis artistas selecionados vão, depois, desenvolver os seus projetos com acompanhamento curatorial do próprio Virgílio Ferreira, de Pablo Berástegui, curador e diretor da Galeria de Fotografia Salut au Monde e Krzysztof Candrowicz, curador, diretor de arte, investigador e educador, ex-diretor artístico da Triennale der Photographie Hamburg. O programa

vai incluir, também, dois workshops orientados por Jayne Dyer, Gil Penha-Lopes e Álvaro Domingues.

“A Ci.CLO aposta sempre na expansão dos seus recursos, numa perspectiva cíclica de renovação e aprendizagem continua, por isso proporcionamos este acompanhamento especializado e até com mentorias com os próprios curadores on line, para acompanhar os projetos que o artista está a desenvolver”, revela o responsável, à Renascença.

Este programa de criação artística, desenvolve-se durante dois anos, e vai culminar numa exposição itinerante, que será integrada na programação da Bienal’21 Fotografia do Porto e nos vários espaços expositivos dos parceiros envolvidos.

O Alentejo leva vantagem neste programa


Évora, por exemplo, quer construir uma cidade autossustentável e amiga do ambiente. A câmara municipal é a cidade-piloto portuguesa do POCITYF – um projeto de cidades inteligentes, em versão experimental.

Com a implementação dos Positive Energy Blocks, pretende-se transformar o tecido urbano da cidade, com incidência nas zonas historicamente protegidas, em locais mais sustentáveis, saudáveis e acessíveis.

“Parece-me um projeto muito desafiante do ponto de vista da fotografia, até, da forma como os artistas vão abordar esta questão e como vão mapear esta iniciativa”, sublinha Virgílio Ferreira.

Já no distrito de Beja, a braços com o fenómeno da seca, o concelho de Mértola procura responder a esta escassez hídrica com ensaios para uma transição agroecológica. De que forma? Através do planeamento e implementação de um Parque Demonstrativo e Experimental no Perímetro Florestal de Mértola.

“Esta transição agroecológica passa por este projeto inovador”, indica o diretor artístico da Ci.CLO, em complementaridade com “a implementação de uma Rede Alimentar Local, que ambiciona um futuro alimentar mais sustentável.”

Fundamental para combater a seca na região alentejana, o Alqueva tem ajudado a transformar a região. Ora, a Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) que participa no LIFE Montado-Adapt, tem em curso um projeto que surge para atenuar as consequências das alterações climáticas nos Montados em Portugal e Espanha.

A Herdade da Coitadinha, em Barrancos, é a primeira área-demonstrativa deste projeto, na qual está a ser implementado o primeiro Sistema Integrado de Gestão do Montado.

Por esse motivo, a empresa que gere o empreendimento de fins múltiplos integra esta parceria, tendo em conta que é, também, “um projeto piloto que envolve várias organizações de Portugal e Espanha, sendo o primeiro a ser implementado com “a finalidade a adaptação dos montados às alterações climáticas”, resume o mesmo responsável.

Desafios ecológicos e sociais


Do baixo Alentejo para o Algarve, com paragem no concelho de Loulé que se propõe proteger e valorizar a geodiversidade do aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira, que remonta há 350 milhões de anos.

“O Geoparque é um projeto que tem várias camadas, digamos assim, pois não são apenas as comunidades que estão envolvidas”, diz Vergílio Ferreira, “mas também várias especialistas, cientistas e a autarquia, sendo um projeto bastante importante do ponto de vista da fotografia.”

Subindo no mapa, o programa “Sustentar” detém-se em Setúbal, concretamente nos bairros do Grito do Povo e dos Pescadores que são, nada mais, nada menos, que a casa de quase 600 famílias ligadas à pesca e à industria conserveira.

O “Setúbal Conserva”, nasce para “minimizar as vulnerabilidades sociais, preservando identidade e memórias, sendo, por isso um projeto sustentável muito interessante e muito rico do ponto de vista do trabalho que pode ser feito pelos criadores”, considera o coordenador do programa “Sustentar”.

O último projeto é do município da Figueira da Foz que trabalha para valorizar e preservar o sal, por isso adquiriu a Salina do Corredor da Cobra, com o intuito de promover a reativação e manutenção contínua da atividade salineira.

“Estamos a falar de um património natural e cultural, e de todos os ecossistemas que, no fundo, estão em volta desta intervenção humana, destas salinas, com várias centenas de anos e que é mais um grande desafio para os nossos bolseiros”, garante Vergílio Ferreira.

Até 23 de fevereiro estão abertas candidaturas ao programa “Sustentar”, com seis bolsas para seis projetos que estão a ser implementados Portugal, como resposta aos atuais desafios ecológicos e sociais.