Quantidade de cereais bloqueados pode triplicar no outono, diz Zelenskiy
06-06-2022 - 22:45
 • Lusa

Presidente ucraniano defende a criação de corredores marítimos, referindo que está em negociações com a Turquia, Reino Unido e ONU.

A quantidade de cereais destinados à exportação e bloqueados na Ucrânia devido à invasão russa pode triplicar no outono e atingir 75 milhões de toneladas, alertou esta segunda-feira o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy.

"Atualmente, entre 20 e 25 milhões de toneladas de cereais estão bloqueadas e neste outono o número pode aumentar para as 70 ou 75 milhões de toneladas", realçou o chefe de Estado ucraniano.

Volodymyr Zelenskiy defendeu a criação de corredores marítimos, referindo que está em negociações com a Turquia, Reino Unido e ONU.

As exportações por via marítima permitem escoar 10 milhões de toneladas por mês, acrescentou.

A Ucrânia, que antes da guerra com a Rússia era o quarto maior exportador mundial de trigo e milho, também está em conversações com a Polónia e os países bálticos para a exportação de pequenas quantidades de cereais por ferrovia, explicou também Zelenskiy.

"Precisamos de conseguir exportar cereais e acho que o vamos alcançar", atirou.

O Presidente russo, Vladimir Putin, assegurou na semana passada que "não há problemas em exportar cereais da Ucrânia", referindo-se à exportação através de portos ucranianos, de outros sob controlo russo ou via Europa Central e Oriental.

A Ucrânia, que acusa a Rússia de bloquear os seus portos, rejeita essas soluções.

"Não se pode confiar emo Putin", sublinhou hoje o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, através da rede social Twitter, em resposta às promessas de Moscovo de não atacar o porto de Odessa.

A invasão russa da Ucrânia resultou num conflito entre duas superpotências na produção de cereais, visto que juntas fornecem 30% das exportações mundiais de trigo.

A guerra provocou um aumento dos preços dos cereais e óleos, cujos valores superaram os alcançados durante a primavera árabe, em 2011, e os 'motins alimentares' de 2008.

Antes do conflito, a Ucrânia estava a caminho de se tornar o terceiro maior exportador mundial de trigo e, sozinha, era responsável por metade do comércio mundial de sementes e óleo de girassol.

A ONU teme "um furacão de fome", principalmente nos países africanos que importaram mais da metade do seu trigo da Ucrânia ou da Rússia.

Segundo um relatório sobre produção agrícola mundial (Wasde) do Departamento de Agricultura norte-americano, na campanha agrícola de 2021/2022 a Ucrânia exportou 20 milhões de toneladas de trigo e 27,5 milhões de toneladas de milho.

Uma delegação russa estará hoje e terça-feira na Turquia para discutir mecanismos que permitam escoar cereais e alimentos da Ucrânia, que incluem a desminagem dos portos do Mar Negro, revelou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov.

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo não deu mais detalhes sobre os mecanismos a discutir, sublinhando a importância de "envolver a Ucrânia na desminagem dos seus portos" e a necessidade de "eliminar todos os obstáculos aos navios que transportarão cereais e outros produtos alimentares para os portos da Europa e, em seguida, para os portos dos países em desenvolvimento".

Os Presidentes russo e turco acordaram, na passada quarta-feira, que a Turquia tentará "ajudar a organizar a desminagem dos portos ucranianos para libertar os barcos que ali permanecem retidos, com mercadorias de que os países em vias de desenvolvimento necessitam".