Tigray continua em situação "muito grave" e precisa de ajuda "urgente", diz ONU
01-02-2021 - 22:29
 • Lusa

A ONU quer que o Governo de Adis Abeba conceda acesso das agências internacionais ao local.

A situação humanitária em Tigray, região etíope palco de um conflito armado nos últimos meses, continua "muito grave", alertou hoje o líder da agência das Nações Unidas para os refugiados, que sublinhou a necessidade de ajuda "urgente".

"A situação humanitária em Tigray é extremamente grave. As pessoas precisam de todo o tipo de apoio: comida, artigos não alimentares, medicamentos, água potável, abrigo", afirmou o líder do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), Filippo Grandi, numa conferência de imprensa virtual e citado pela agência Efe.

"A ONU estima que centenas de milhares de pessoas ficaram deslocadas e continuam deslocadas. Tem havido alguns progressos no âmbito da segurança, mas temos visto em algumas áreas a violência a ser perpetrada por elementos armados", acrescentou Grandi no final de uma visita de três dias à Etiópia.

O chefe do ACNUR, que se encontrou com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e com outros responsáveis e representantes da Etiópia, considerou "urgente" que haja um "contacto com os refugiados que ainda estão dispersos", estimando haver entre 15.000 a 20.000 pessoas em áreas a que a agência da ONU não tem acesso.

Para isso, o diplomata italiano defendeu a "aceleração da assistência", algo "muito importante" para evitar mais sofrimento da população.

"É muito positivo que nos últimos dias tenham sido obtidas autorizações para levar cargas para armazéns em Tigray, em particular em Mekele [capital da região]. O passo seguinte é assegurar que estes carregamentos, em especial de alimentos, chegam às pessoas que deles necessitam", sublinhou.

Da mesma forma, o diplomata insistiu na necessidade de facilitar o acesso das agências das Nações Unidas e de organizações não-governamentais (ONG) ao local.

Esta segunda-feira, o Conselho Norueguês para os Refugiados criticou que "12 semanas depois do início do conflito na região (...) ainda não tenham sido iniciadas operações de ajuda humanitária significativas".

O alto comissário pediu também ao Governo etíope para conduzir "investigações independentes" e com "total transparência" a abusos graves, como crimes sexuais, de que se queixaram refugiados eritreus em Tigray.

Segundo o ACNUR, mais de 60.000 pessoas fugiram da violência em Tigray, tendo procurado refúgio no vizinho Sudão.

Em 4 de novembro, Abiy Ahmed, Nobel da Paz em 2019, lançou uma operação militar na região de Tigray após meses de tensão crescente com as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF, na sigla em inglês).

A região foi privada de fornecimento de bens, telecomunicações e energia, sendo desconhecida a situação militar e humanitária.

As forças federais viriam a proclamar o fim dos combates em 28 de novembro, com a captura de Mekele, capital regional, pelo Exército federal.

Os governos da Etiópia e do Tigray consideram-se reciprocamente como ilegítimos, e os combates em curso na região são o culminar de meses de fricção crescente desde que Abiy Ahmed tomou posse em 2018 e afastou do poder a até aí dominante TPLF.