Competir com as "fake news" será a morte do jornalismo, alerta António Costa
25-04-2019 - 00:10
 • Renascença

Numa emissão especial a partir do Palácio de São Bento, o primeiro-ministro considerou que, 45 anos depois da Revolução dos Cravos, a missão dos jornalistas é “mais importante do que nunca”. Já o Presidente da República avisou que "é muito difícil num clima de precariedade fazer um jornalismo livre e forte”.

A missão dos jornalistas é “mais importante do que nunca”, mas os profissionais da comunicação social têm que “resistir à tentação de reproduzirem as ‘fake news’ ou de quererem competir” com as notícias falsas, alerta o primeiro-ministro, António Costa, na emissão especial da Renascença para assinalar os 45 anos da revolução de Abril.

Através das redes sociais, sublinhou o chefe do Governo numa entrevista na residência oficial em São Bento, “qualquer pessoa pode produzir informação, mas também pode produzir desinformação”.

“Isso é um fator de preocupação, mas também de enorme valorização do jornalismo como profissão. O risco é se o jornalismo não percebe que tem aqui uma grande oportunidade de valorizar, fazendo um tratamento profissional, rigoroso, sério daquilo que é a informação, estabelecer o barómetro do que é verdade ou se tem a tentação de, simplesmente, amplificar e reproduzir as ‘fake news’ que as redes sociais reproduzem”, afirma António Costa.

O primeiro-ministro considera que está nas mãos dos jornalistas escolher o caminho a seguir.

“A minha convicção é que, se se limitarem a reproduzir nos meios de comunicação social tradicionais as ‘fake news’ das redes sociais, matarão o jornalismo, porque não têm capacidade de competir com a criatividade, descentralização nem com a capacidade de penetração dessas redes sociais. Aquilo que pode dar mais força ao jornalismo é o cidadão saber que em cada rádio, televisão e jornal pode encontrar a verdade a quem tem direito”, defende.

António Costa garante que estas palavras “não são um raspanete” à comunicação social, mas um apelo “à reflexão que os jornalistas têm de fazer”.

“E há aqui um problema, de facto, é que hoje os cidadãos são muito mais exigentes, os problemas sobre os quais querem ter opinião são cada vez mais complexos e a necessidade de simplificar para ser acessível ao conjunto dos cidadãos o que é complexo é um exercício muito difícil, exige enorme profissionalismo. E portanto, aqui os jornalistas têm uma enorme vantagem sobre que intervém nas redes sociais”, declarou.

"É muito difícil fazer jornalismo livre e forte num clima de precariedade

Nos 45 anos do 25 de abril e do fim da ditadura em Portugal, António Costa adverte que “a liberdade nunca é um adquirido”.

“A história já nos provou que, depois de longos períodos de liberdade, houve momentos em que a liberdade desapareceu. E não há liberdade sem imprensa livre e a comunicação social é uma condição essencial para viver em liberdade”, sustenta o primeiro-ministro.

A emissão especial da Renascença também contou com uma intervenção – por telefone - do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa mantém a sua preocupação em relação ao estado do jornalismo.

“Não há jornalismo livre se a comunicação social não tiver situação económica e financeira estável, porque uma situação instável dá instabilidade e precariedade a tudo", disse o Presidente da República.

"Em relação aos trabalhadores da comunicação social, é muito difícil num clima de precariedade fazer um jornalismo livre e forte”, sublinhou Marcelo Rebelo de Sousa, que tem um passado ligado ao jornalismo e ao jornal "Expresso".