Escalada dos combustíveis. “Se continuar assim, posso vir a fechar”
25-10-2021 - 06:40
 • Olímpia Mairos

Para fugir aos preços altos da gasolina e do gasóleo, os portugueses vão aonde é mais barato. As bombas na fronteira são as mais penalizadas com a deslocação dos consumidores para Espanha.

O aumento continuado do preço da gasolina e do gasóleo está a deixar vários postos de combustíveis sem clientes e, por isso, em dificuldades financeiras.

Nas bombas de Curalha, à entrada de Chaves para quem sai da A24, não se encontra ninguém a abastecer. Um cenário comum ao que se tem verificado nos últimos dias, conta Graça Silva, a proprietária, à Renascença.

“Tem-se vendido muito pouco, as pessoas não têm parado, devido ao aumento do preço dos combustíveis”, diz, ao mesmo tempo que olha para a estrada, notando que também ali “não circulam automóveis”.

“Está muito difícil, pois cada vez se vende menos. Se continuar assim, até posso vir a fechar”, desabafa a proprietária que trabalha ali, com o marido e um empregado.

E nem a descida do ISP anunciado pelo Governo, e que vai vigorar até ao dia 31 de janeiro do próximo ano, sossega quem vive da venda de combustíveis.

“Não aquece nem arrefece, porque o combustível está sempre a aumentar”, diz Graça Silva, sugerindo que “está na hora de todos os revendedores de combustíveis se unirem e obrigarem o Governo a encontrar uma solução para fazer face à escalada dos preços”.

“Acho que devíamos fazer uma greve, para ver onde isto ia parar. Paravam os postos de combustíveis e, assim, fazíamos com que tudo parrasse e o Governo logo iria tomar outras decisões”, defende.

Também no centro da cidade de Chaves, o posto de combustíveis onde trabalha Diogo Rosa está sem ninguém para abastecer. Nos últimos dias os clientes têm vindo a diminuir e quem chega para abastecer já não pede para encher o depósito.

“O máximo que metem agora é até 20 euros. Cinco, dez euros, é a média dos últimos dias”, diz Diogo Rosa, acrescentando que a “quebra nas vendas é muito acentuada, sobretudo na gasolina”.

“Num turno de oito horas passavam aqui mais de 100 carros e agora quase não chega a metade”, exemplifica.

Cenário idêntico é descrito à Renascença por Augusto Sevivas, do posto de combustíveis situado na EN 2, uma estrada por onde circulam diariamente várias centenas de automóveis.

“Há muita gente que já não enche o carro. Antigamente era 50/60 euros e, neste momento, metem aos 10 e 20 euros. E onde se nota um decréscimo maior é na gasolina”, conta Augusto, afirmando que “a culpa de toda esta situação é do Estado”.

O continuado aumento do preço dos combustíveis está a levar os clientes para Espanha, onde gasolina e gasóleo são mais baratos, e a agudizar os problemas nas bombas próximas da fronteira.

“As pessoas procuram ter dinheiro para todos os gastos do mês e subindo os combustíveis têm de procurar onde são mais baratos e como estamos próximos da fronteira, rápido vão para o lado de lá”, diz Augusto.

O funcionário refere ainda que, por mais criativos que sejam, não é possível fidelizar os clientes e competir com Espanha.

“Mesmo que nós tenhamos cartões de descontos, não chega, porque as pessoas olham para o preço e para a carteira e, então, vão onde é mais barato”, conclui.

Em Espanha, a gasolina 98, por exemplo, é de 0,30 euros por litro a menos que em Portugal. A diferença de encher um só depósito do carro pode levar a uma poupança de 20 euros.

Este ano, o preço dos combustíveis subiu na segunda-feira pela 36.ª vez. Este mês, Portugal tinha a 7.ª gasolina mais cara da União Europeia. No gasóleo, num mês, o país passou de 6.º para 9.º lugar.

Na segunda-feira, o Presidente da República admitia que a subida dos combustíveis é preocupante quer para as famílias, quer para as empresas. Marcelo Rebelo de Sousa alertou mesmo que não haverá arranque da economia, se os preços continuarem a subir.

Na quarta-feira, o Marcelo Rebelo de Sousa promulgou a lei que limita as margens de comercialização dos combustíveis, mas com recados para o Governo.

Numa nota da Presidência da República reconhece que este diploma, agora promulgado, é “um primeiro passo para mitigar uma situação de emergência económica e social, que mais do que justifica a intervenção do Estado no mercado”.

Contudo, Marcelo avisa que “a presente lei adota medidas paliativas” que “não enfrentam várias outras questões da situação atual”.